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Crítica

Tinashe

: "333"

Ano: 2021

Selo: Tinashe Music

Gênero: R&B, Pop, Soul

Para quem gosta de: Chloe x Halle, Kehlani e SZA

Ouça: I Can See the Future e Bouncin

7.6
7.6

Tinashe: “333”

Ano: 2021

Selo: Tinashe Music

Gênero: R&B, Pop, Soul

Para quem gosta de: Chloe x Halle, Kehlani e SZA

Ouça: I Can See the Future e Bouncin

/ Por: Cleber Facchi 12/08/2021

Desde que deu fim ao limitante contrato com a RCA, Tinashe parece ter encontrado um lugar que pertence semente a ela. E isso fica bastante evidente no considerável salto criativo entre Joyride (2018), último registro pela gravadora, e o material entregue logo no álbum seguinte, o autoral Song For You (2019). São composições que preservam o mesmo refinamento estético explícito nas canções de Aquarius (2014), grande obra da cantora e compositora estadunidense, mas que se permitem provar de novas possibilidades, conceitos e temáticas, versatilidade que volta a se repetir com a chegada de 333 (2021, independente), quinto e mais recente trabalho de estúdio da artista.

Misto de sequência e fina desconstrução de tudo aquilo que foi apresentado no álbum anterior, com suas batidas densas e temas atmosféricos, 333 encanta pela fluidez das vozes e abordagem dinâmica adotada pela artista durante toda a execução do trabalho. Pouco menos de 50 minutos em que Tinashe colide sentimentos, ritmos e referências estéticas de forma sempre sensível, ainda que enérgica, proposta que naturalmente aponta para as antigas mixtapes da cantora. A principal diferença está na maior urgência dada ao material, tratamento que vai do permanente diálogo com a produção eletrônica ao cruzamento entre canto e rima que orienta a montagem dos versos.

Não por acaso, Tinashe fez de Pasadena e Bouncin as duas primeiras composições do disco a serem apresentadas ao público. Enquanto a primeira reflete a capacidade da artista em incorporar o trabalho de diferentes colaboradores, vide o aproveitamento dado às rimas do rapper Buddy, com a música seguinte, a cantora resgata e potencializa parte da essência dançante incorporada aos primeiros autorais. São batidas e sintetizadores que conceitualmente apontam para o R&B dos anos 1990/2000, porém, partindo de uma abordagem totalmente futurística e repaginada, direcionamento que se reflete até a canção de encerramento do disco, It’s a Wrap, parceria com Quiet Child e Kudzai.

Esse mesmo tratamento fica ainda mais evidente em outros momentos ao longo da obra. É o caso de Shy Guy, com suas batidas e vozes rápidas, e Unconditional, canção que preserva a essência de Tinashe, porém, ganha novo acabamento na produção eletrônica de Kaytranada, com quem tem colaborado desde o ótimo Bubba (2019). O mais curioso talvez seja perceber a forma como a cantora transita por entre ritmos sem necessariamente fazer disso o estímulo para um trabalho confuso. Exemplo disso acontece na sequência entre Undo (Back to My Heart), música que aponta para o mesmo território nostálgico de After Hours (2020), último álbum de The Weeknd, e Let Me Down Slowly, faixa que parece saída de algum registro recente do Disclosure ou outro nome de peso da cena inglesa.

Mesmo interessada em provar de novas possibilidades, importante notar o esforço da cantora em alternar entre momentos de maior agitação e faixas ainda íntimas dos antigos trabalhos. Perfeita representação desse resultado acontece logo nos primeiros minutos do disco, em I Can See The Future, composição que resgata a produção reducionista de Aquarius, porém, carrega nos temas e costuras sintéticas um precioso componente de renovação. E isso se reflete em diversos outros momentos ao longo da obra, como na doce melancolia de Last Call e Small Reminders, músicas que partem de uma fina base instrumental e vozes sobrepostas, íntimas do repertório de Tinashe.

Vem justamente desse esforço em incorporar diferentes conceitos e faixas que preservam a essência de antigos registros um problema bastante recorrente nos trabalhos de Tinashe: o excesso de composições. E isso fica ainda mais evidente na segunda metade do álbum, quando músicas como Bouncin’, Pt. 2 estendem a duração do material para além do necessário. Mesmo colaborações tão esperadas, como X, ao lado de Jeremih, pouco contribuem para o desenvolvimento da obra, soando como um exercício menor quando próxima de outros encontros ao longo do disco. São pequenos inchaços e momentos de maior instabilidade, mas que em nenhum momento prejudicam o completo domínio criativo e capacidade artista em efetivamente surpreender a cada novo lançamento.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.