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Crítica

Tinashe

: "Songs For You"

Ano: 2019

Selo: Tinashe Music

Gênero: Hip-Hop, R&B, Pop

Para quem gosta de: Kehlani, Cassie e Ciara

Ouça: Stormy Wheater e Save a Room For Us

7.8
7.8

Tinashe: “Songs For You”

Ano: 2019

Selo: Tinashe Music

Gênero: Hip-Hop, R&B, Pop

Para quem gosta de: Kehlani, Cassie e Ciara

Ouça: Stormy Wheater e Save a Room For Us

/ Por: Cleber Facchi 29/11/2019

Criativamente sufocada pela própria gravadora, a RCA, Tinashe se viu obrigada a lançar um trabalho que não apenas parecia incapaz de dialogar com a maturidade explícita no antecessor Aquarius (2014), como se mostrou inferior a qualquer outro registro previamente apresentado pela artista, caso de Black Water (2013) e Nightride (2016). O resultado dessa recepção fria em torno do mediano Joyride (2018), entregue há poucos meses, ocasionou em um rompimento antecipado do próprio selo com a cantora, deixando o caminho aberto para que um novo álbum de inéditas fosse lançado de forma independente.

Vem justamente dessa sequência de acontecimentos o estímulo para o recém-lançado Songs for You (2019, Tinashe Music). Quarto e mais recente álbum de estúdio da cantora e compositora norte-americana, o registro segue exatamente de onde Tinashe parou há cinco anos, durante a entrega de Aquarius. Canções sempre guiadas pela força dos sentimentos, desejos e conflitos recentes vividos pela artista, lirismo que se completa pela fina base instrumental que parece apontar para o R&B produzido entre o final dos anos 1990 e início da década seguinte.

Eu sei que você seguiu em frente / Mas ela nunca vai te amar / Do jeito que eu te amo / Agora danço sozinha / Desaparecendo lentamente / Ainda dói quando vejo você com ela“, canta em Save Room for Us, doloroso registro sentimental que sintetiza parte das experiências compartilhadas pela artista durante toda a execução da obra. São pouco menos de três minutos em que Tinashe e o convidado, o produtor MAKJ, convidam o ouvinte a se perder em um território tão doloroso quanto deliciosamente dançante. Um indicativo claro da tentativa da artista em se reinventar dentro de estúdio, provando de novas possibilidades e ritmos.

Nada que se compare ao material apresentado na delicada Stormy Weather. Marcada pelo minimalismo na composição das batidas, ruídos e guitarras atmosféricas detalhadas pelo produtor Oliver Malcolm, a canção sutilmente amplia tudo aquilo que Tinashe havia testado durante o lançamento de músicas como Ooh La La, do álbum anterior. Momentos de profunda delicadeza que se completam pela poesia intimista da cantora. “Vou te manter quente / Acelerando mais rápido, cruze a fronteira / Amadureça, mais quente, mais frio / Eu ouço uma tempestade chegando“, canta em uma voluptuosa metáfora sobre o orgasmo feminino.

O mesmo refinamento melódico e lírico acaba se refletindo em outros momentos do trabalho. São faixas como a quente So Much Better, parceria com G-Eazy; o uso de temas dançantes em Die a Little Bit, bem sucedido encontro com Ms Banks, ou mesmo a já conhecida Touch & Go, colaboração com o rapper 6LACK. “Eu só quero consertar isso, mas você não quer tentar / Se você não quer estar aqui, por que está sempre no meu caminho / Colocando sua paz sobre a minha?“, questiona enquanto batidas e vozes lentas se espalham ao fundo da canção, lembrando parte da atmosfera detalhada em Aquarius.

O grande problema de Songs for You, assim como em parte expressiva dos trabalhos de Tinashe, está no excesso de composições. São faixas como a acústica Remember When ou o trap estilizado de Hopscotch e Link Up, canções que parecem deslocadas do restante da obra, tornando a experiência do ouvinte arrastada em diversos momentos. Entretanto, uma vez seduzido pelo lirismo confessional de músicas como Feelings, Story Of Us e Save a Room For Us, difícil escapar do som produzido pela cantora. Instantes de doce melancolia, como uma fina continuação de tudo aquilo que a artista tem produzido desde o início da carreira.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.