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Críticas

Cass McCombs

: "Tip of The Sphere"

Ano: 2019

Selo: Anti-

Gênero: Folk Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Kurt Vile e Kevin Morby

Ouça: I Followed The River South To What e Estrella

8.0
8.0

Crítica: “Tip of The Sphere”, Cass McCombs

Ano: 2019

Selo: Anti-

Gênero: Folk Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Kurt Vile e Kevin Morby

Ouça: I Followed The River South To What e Estrella

/ Por: Cleber Facchi 21/02/2019

Crescer sem necessariamente perder a própria identidade. Esse tem sido o principal direcionamento criativo do cantor e compositor Cass McCombs nos últimos anos. Partindo de um lento processo de amadurecimento instrumental e poético que teve início há dez anos, durante o lançamento de Catacombs (2009), cada novo registro entregue pelo músico norte-americano parece transportar o ouvinte para um reformulado ambiente temático, estrutura que se revela se forma transformada nas canções de Tip of The Sphere (2019, Anti-).

Sequência ao bem-sucedido Mangy Love (2016), obra que apresentou o trabalho do músico norte-americano a uma nova parcela de ouvintes e trouxe composições como Medusa’s Outhouse, Run Sister Run e Opposite House, o novo álbum encontra na força dos sentimentos a base para cada novo movimento do artista. São histórias de amor, conflitos intimistas e canções que passeiam em meio a paisagens metafóricas, conceito aprimorado pelo cantor em obras como Wit’s End (2011).

Síntese dessa transformação ecoa com naturalidade logo na faixa de abertura do disco, I Followed The River South To What. “Onde você irá, quando o inverno chegar? / Para a estrada aberta, mas por que não pedir meus polegares? / Se eu tivesse seu dólar, eu bateria como um tambor“, canta enquanto guitarras psicodélicas ganham forma aos poucos, revelando cenários e imagens delirantes. Pouco mais de sete minutos em que McCombs convida o ouvinte a se perder em um universo mágico, guiado em essência pelas emoções.

Exemplo disso está na delicada composição de Real Life. Quinta faixa do disco, a canção parte de uma base acústica para crescer em meio a colagens percussivas que acompanham a voz de McCombs. A própria música de encerramento do disco, Rounder, com mais de dez minutos de duração, convida o ouvinte a provar de diferentes variações instrumentais, como um labirinto de ideias e possibilidades que muda de direção a todo instante.

O mesmo cuidado se reflete em Estrella. Terceira faixa do disco, a canção utiliza de melodias acústicas que revisitam o cancioneiro norte-americano de forma particular. “Se eu estou delirando / É porque você está abrigando minha língua, minha língua sem fé“, canta em meio a versos bilíngues enquanto mergulha em um universo consumido pela dor, resgatando memórias de um antigo relacionamento. É como se cada novo movimento de McCombs fosse consumido pela tristeza do compositor, estrutura que se reflete em músicas como Prayer for Another Day, Sleeping Volcanoes e Sidewalk Bop After Suicide.

Desafiador, porém, ainda íntimo dos antigos trabalhos de McCombs, Tip of The Sphere encanta pela forma como o artista norte-americano se permite provar de novas possibilidade e ritmos. Assim como toda a sequência de obras apresentadas nos últimos anos, a grande beleza do presente disco se encontra na forma como o cantor trabalha os próprios sentimentos, fazendo de experiências particulares, dores e emoções a base para o completo fortalecimento dos versos.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.