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Crítica

Weyes Blood

: "Titanic Rising"

Ano: 2019

Selo: Sub Pop

Gênero: Folk Rock, Alternativa

Para quem gosta de: Jessica Pratt, Julia Holter e Sharon Van Etten

Ouça: Andromeda e Everyday

8.8
8.8

“Titanic Rising”, Weyes Blood

Ano: 2019

Selo: Sub Pop

Gênero: Folk Rock, Alternativa

Para quem gosta de: Jessica Pratt, Julia Holter e Sharon Van Etten

Ouça: Andromeda e Everyday

/ Por: Cleber Facchi 08/04/2019

Natalie Mering sempre encontrou no passado, mesmo aquele não vivido por ela, um importante componente criativo para o fortalecimento da própria obra. São arranjos empoeirados que apontam de maneira explícita para os anos 1960 e 1970, versos que dialogam com a essência de veteranas como Joni Mitchell, Carole King e The Carpenters e toda uma atmosfera que tinge com nostalgia cada novo movimento da artista como Weyes Blood. “Eu sou uma futurista, mas também sou uma futurista nostálgica. Esses são dois tipos de coisas incompatíveis, mas eu tento fazer com que funcionem juntos“, respondeu em entrevista.

É justamente dentro desse cenário ora futurístico, ora embriagado pelo passado que Mering estabelece as canções de Titanic Rising (2019, Sub Pop). Sequência ao elogiado Front Row Seat to Earth (2016), obra também inspirada pela música produzida há mais de cinco décadas, o trabalho que conta com co-produção de Brian D’Addario (The Lemon Twigs) e Jonathan Rado (Foxygen) passeia pelo tempo de forma curiosa, sempre sensível. Orquestrações acústicas e texturas eletrônicas que se entrelaçam de forma provocativa, brincando com a interpretação do ouvinte durante toda sua execução.

Síntese desse profundo refinamento estético e dualidade imposta por Mering ecoa com naturalidade em Movies, sexta faixa do disco. “Coloque-me em um filme e todo mundo vai me conhecer / Você será a estrela que sabe que é / Os filmes que assisti quando era criança / As esperanças e os sonhos / Não dê crédito às coisas reais“, reflete enquanto ambientações cósmicas e paisagens instrumentais vão do pop atmosférico de Suzanne Ciani aos delírios confessionais de Sharon Van Etten, Angel Olsen e demais nomes recentes da cena alternativa dos Estados Unidos.

Em Everyday, terceira canção do disco, o mesmo diálogo com o passado, porém, de forma ainda mais referencial, como se Mering fosse sutilmente despida da própria identidade artística. São pianos detalhistas, arranjos de cordas e vozes em coro que poderiam facilmente ser encontrados em algum disco de Cass Elliot ou dos Beach Boys. “Estou com tanto medo de ficar sozinha / É verdade, é verdade / Eu vejo você todos os dias / Mas isso não é suficiente“, canta enquanto todos os elementos da canção se articulam de forma crescente, lembrando os momentos mais ensolarados de Julia Holter, em Have You In My Wilderness (2015).

O mesmo comprometimento estético se reflete em outros momentos ao longo da obra. Em Wild Time, por exemplo, são camadas de sintetizadores e pianos que encolhem e crescem a todo instante. Composição que mais se aproxima dos antigos trabalhos de Weyes Blood, Andromeda preserva o mesmo folk psicodélico de Front Row Seat to Earth, porém, em uma estrutura renovada, estímulo para a poesia agridoce derramada pela artista – “O amor está chamando / É hora de deixar passar / Encontrar um amor que vai fazer você / Eu te desafio a tentar“. Um som cuidadoso, esmero que se reflete mesmo na curtinha Nearer to Thee, faixa de encerramento do disco.

Produto das emoções e evidente desejo de Mering em amadurecer dentro de estúdio, Titanic Rising perverte o óbvio mesmo encontrando no passado um importante elemento de consolidação estética. Trata-se de uma obra que parece dançar pelo tempo, estrutura que vem sendo explorada pela artista desde o primeiro álbum de estúdio, The Outside Room (2011). Um misto de passado e presente que se reflete não apenas na rica base instrumental montada para o registro, mas, principalmente, no romantismo honesto e atemporal que embala os versos lançados pela cantora até o último instante do trabalho.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.