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Crítica

Trevor Powers

: "Capricorn"

Ano: 2020

Selo: Fat Possum

Gênero: Experimental, Música Ambiente, Ambient Pop

Para quem gosta de: Grouper e Benoît Pioulard

Ouça: Blue Savior, The Riverine e A New Name

7.8
7.8

Trevor Powers: “Capricorn”

Ano: 2020

Selo: Fat Possum

Gênero: Experimental, Música Ambiente, Ambient Pop

Para quem gosta de: Grouper e Benoît Pioulard

Ouça: Blue Savior, The Riverine e A New Name

/ Por: Cleber Facchi 11/08/2020

A grande beleza da obra de Trevor Powers sempre esteve na delicadeza do músico norte-americano. São camadas instrumentais, texturas e micro-ambientações que parecem conduzir a experiência do ouvinte para dentro de um cenário onírico, conceito reforçado nos dois primeiros trabalhos de estúdio do Youth Lagoon, Year of Hibernation (2011) e Wondrous Bughouse (2013), extinto projeto do multi-instrumentista. Satisfatório perceber o mesmo comprometimento estético nas oito faixas que recheiam o inédito Capricorn (2020, Fat Possum), registro lançado de surpresa e princípio de um novo direcionamento criativo na carreira do músico estadunidense.

Sequência ao material entregue no eletrônico Mulberry Violence (2018), o disco produzido e gravado de forma totalmente caseira estabelece no reducionismo dos elementos um precioso ponto de transformação na carreira de Trevors. São delicadas camadas instrumentais que estabelecem na ausência dos versos o estímulo para uma obra que exige ser desvendada. Instantes em que o músico se divide entre o sonho e a realidade, a fuga e o regresso, proposta que embala a experiência do ouvinte até a derradeira 2166, faixa que resgata as ambientações sujas testadas no Youth Lagoon.

Parte dessa mudança de direção vem da escolha de Trevors em provar de novas referências criativas. Marcado pela lisergia dos elementos, o álbum traz como inspiração os mangás psicodélicos do japonês Keiichi Koike, elementos do folclore norte-americano e até mesmo os fantoches do tcheco Richard Teschner. Exemplo disso ecoa com naturalidade logo nos primeiros minutos do disco, em The Riverine, música que encanta pelo uso de elementos da cultura oriental, conceito que acaba se refletindo de maneira discreta, porém, sempre delicada, em outros momentos ao longo da obra.

É o caso de A New Name. Entre captações aquáticas e ruídos pontuais, Trevors convida o ouvinte a se perder em uma experiência cósmica. São camadas de sintetizadores, efeitos e melodias psicodélicas que apontam diretamente para a produção dos anos 1970, como um curioso olhar para o passado. O mesmo aspecto revisionista acaba se refletindo mais à frente, em Blue Savior. Inaugurada em meio a ambientações contidas, lentamente a canção mergulha na inserção de metais e temas jazzísticos que alcançam um ponto de equilíbrio entre a melancólica trilha de Vangelis para Blade Runner (1982) e as criações de Angelo Badalamenti em Twin Peaks.

Mesmo quando resgata uma série de elementos originalmente testados nos primeiros registros autorais, como em Earth To Earth, há sempre um elemento de transformação dentro da obra. É como se Trevors partisse de uma estrutura linear, porém, sutilmente mergulhasse em um universo de essência labiríntica e formas abstratas. São diferentes obras condensadas dentro de cada composição. Frações melódicas e pequenas sobreposições etéreas que partem do direcionamento autoral do músico, mas que em nenhum momento tendem ao óbvio, mudando de direção a todo instante.

Não por acaso, Capricorn é o trabalho mais inventivo do músico desde o amadurecimento criativo detalhado em Wondrous Bughouse. Mesmo desfalcado da poesia delirante que tradicionalmente embala as criações do artista, como em Mute e Cannon, o registro estabelece no inusitado uso dos arranjos, melodias e formas instrumentais um claro componente de ruptura e fuga do comodismo. São ideias que se entrelaçam de maneira sempre inexata, torta, prova de que mesmo imerso em um cenário tão restrito, Powers continua a jogar com a interpretação do público.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.