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Crítica

Triad God

: "Triad"

Ano: 2019

Selo: Presto!?

Gênero: Experimental, Eletrônica, R&B

Para quem gosta de: Dean Blunt, Jai Paul e Oneohtrix Point Never

Ouça: Babe Don't Go e So Pay La

7.8
7.8

“Triad”, Triad God

Ano: 2019

Selo: Presto!?

Gênero: Experimental, Eletrônica, R&B

Para quem gosta de: Dean Blunt, Jai Paul e Oneohtrix Point Never

Ouça: Babe Don't Go e So Pay La

/ Por: Cleber Facchi 09/04/2019

A grande beleza do som produzido por Vinh Ngan sempre esteve na completa imprevisibilidade dos elementos, vozes e fórmulas instrumentais incorporadas pelo artista britânico. Original da cidade de Londres, porém, descendente de uma família de vietnamitas e chineses, o rapper fez da própria herança cultural a base para uma seleção de faixas essencialmente versáteis. Ideias que se entrelaçam de forma inexata, estímulo para o material que embala as canções do segundo e mais novo álbum de estúdio como Triad God, Triad (2019, Presto!?).

Menos urgente em relação ao material entregue há sete anos, durante o lançamento do experimental NXB (2012), o novo álbum preserva a essência do registro que o antecede, porém, em uma medida própria de tempo. São ambientações etéreas, versos trilingues e batidas que vão do R&B ao pop atmosférico em uma estrutura própria dos trabalhos de Ngan. Um som delirante, torto, mas nunca inacessível, como se o produtor estabelecesse pequenas brechas capazes de dialogar com o ouvinte médio.

Exemplo disso ecoa com naturalidade em Babe Dont’ Go. São pouco menos de três minutos em que o artista prova do mesmo R&B futurístico de James Ferraro, Dean Blunt e outros nomes recentes com quem vem se relacionando dentro e fora de estúdio. Ideias que se espalham de forma propositadamente inexata, torta, estrutura que se reflete com naturalidade na complementar BDG, música que abraça o minimalismo abstrato de Jai Paul e, principalmente, Burial, vide obras como Young Death / Nightmarket (2016) e Rodent (2017).

Em Gway Lo, quarta faixa do disco, instantes de evidente aprimoramento estético. Enquanto preserva o inusitado uso das rimas, costurando versos cíclicos em cantonês, perceba como Ngan resgata uma série de elementos da cultura chinesa. São camadas instrumentais e vozes sampleadas que ampliam os limites da obra, revelando ao público um dos momentos de maior transformação do trabalho. O mesmo direcionamento climático se reflete em Dill, música que amplia tal refinamento conceitual, cercando e confortando o ouvinte em uma cama de temas sintéticos.

Dos poucos momentos em que rompe com essa atmosfera minimalista e densa, Ngan se aproxima de outros nomes recentes que dialogam com a produção asiática. Difícil não lembrar de Yaeji no pop eletrônico de Chinese New Year, música concebida a partir de pequenos retalhos instrumentais, pianos e vozes sobrepostas. A própria faixa de abertura do disco, com seus versos semi-declamados, aproximam o ouvinte para do mesmo universo criativo, refletindo o completo esmero do produtor.

Movido pela incerteza das ideias, batidas e fórmulas instrumentais, Triad God encanta justamente pelo parcial distanciamento de Ngan da realidade. Do momento em que tem início, no pop estranho de Babe Don’t Go, passando pela composição climática de Gway Lo ou mesmo o fino toque de melancolia que invade Dill, interessante notar a forma como o produtor inglês muda de direção sem necessariamente perverter a própria identidade, fazendo do presente disco uma obra maior e mais complexa a cada nova audição.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.