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Ano: 2020

Selo: Tribe

Gênero: R&B, Neo-Soul, Funk

Para quem gosta de: Tinashe e Chloe x Halle

Ouça: Experience, Dive e Ass Like That

7.8
7.8

Victoria Monét: “Jaguar”

Ano: 2020

Selo: Tribe

Gênero: R&B, Neo-Soul, Funk

Para quem gosta de: Tinashe e Chloe x Halle

Ouça: Experience, Dive e Ass Like That

/ Por: Cleber Facchi 21/08/2020

Estranho pensar que Jaguar (2020, Tribe) seja apenas o primeiro trabalho de estúdio de Victoria Monét. Em um intervalo de mais de meia década, a cantora e compositora norte-americana não apenas deu vida a uma série de registros em carreira solo, vide a dobradinha composta por Nightmares & Lullabies (2014) e Life After Love (2018), como colaborou com gigantes da indústria, caso de Kendrick Lamar, NAS, Fifth Harmony, Lupe Fiasco, e, principalmente, Ariana Grande, para quem compôs diversas faixas, como Be Alright, Let Me Love You, Thank U, Next e a bem-recebida 7 Rings, música que garantiu à artista duas indicações ao Grammy deste ano.

Não por acaso, o debute de Monét chega ao público como uma obra coesa e essencialmente madura. São nove faixas e pouco mais de 20 minutos em que a cantora e compositora se revela por completo, confessando algumas de suas principais referências criativas e transitando por entre gêneros de forma sempre detalhista. Instantes em que somos transportados para o neo-soul da década de 1990, esbarrando em músicas que parecem saídas de um disco de Erykah Badu, porém, ainda conectados ao presente, efeito direto do tratamento dado às batidas e linguagem atualizada do registro.

Perfeita representação desse resultado ecoa com naturalidade logo nos primeiros minutos do disco, em Dive. Entre versos que discutem prazer feminino – “Você sabe o que está fazendo? / Seu pescoço está tenso? / Você sabe como usar? / Tenha uma longa conversa comigo” –, Monét parece dançar pelo tempo, efeito direto da produção minuciosa de D’Mile e xSDTRK. São ambientações detalhistas que vão do soul cósmico da década de 1970 ao R&B dos anos 2010, conceito reforçado pelo tratamento dado às batidas e captações de uma cama rangendo, conceito similar ao trabalho de Tinashe, em Ooh La La, uma das principais faixas de Joyride (2018).

De fato, são essas pequenas conexões melódicas com diferentes nomes da música negra dos Estados Unidos que tornam a experiência de ouvir o álbum tão satisfatória. É como se a cantora, que passou grande parte da última década colaborando com diferentes artista, transportasse para dentro de estúdio uma série de elementos típicos de outras obras do gênero. Difícil não lembrar de Chloe x Halle, com quem Monét colaborou em Do It, e outros nomes recentes do R&B/soul, caso de Normani, Amber Mark e Kali Uchis. Um criativo cruzamento de ideias que reflete a força criativa de Jaguar.

A principal diferença em relação a outros exemplares recentes, como It Was Good Until It Wasn’t (2020), último álbum de Kehlani, está no acabamento orgânico dado ao disco. Durante toda a execução da obra é possível ouvir grande parte dos instrumentos, principalmente o naipe de metais que acompanha a artista até o último instante do registro. São ambientações cuidadosamente trabalhadas em estúdio, como uma fuga do reducionismo eletrônico que tradicionalmente define outros projetos do gênero. Mesmo faixas comercialmente moldadas para dialogar com uma parcela maior do público, como Experience e Ass Like That, refletem o completo esmero de Monét e seus parceiros de produção.

Tamanho cuidado no processo de composição do registro garante ao público uma obra que exige ser revisitada. São incontáveis camadas instrumentais, fragmentos de vozes e componentes que apontam para os mais variados campos da música. Um trabalho talvez enxuto em excesso – das nove faixas, pelo menos duas são interlúdios –, principalmente para quem há tempos aguardava pela estreia de Monét, porém, eficiente durante toda sua execução. Instantes em que a artista resgata uma série de elementos originalmente testados em parceria anteriores, porém, deixando o caminho aberto para os futuros lançamentos.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.