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Crítica

Vivian Girls

: "Memory"

Ano: 2019

Selo: Polyvinyl

Gênero: Indie Rock, Garage Rock

Para quem gosta de: Dum Dum Girls e Chastity Belt

Ouça: Sludge e Your Kind of Life

7.5
7.5

Vivian Girls: “Memory”

Ano: 2019

Selo: Polyvinyl

Gênero: Indie Rock, Garage Rock

Para quem gosta de: Dum Dum Girls e Chastity Belt

Ouça: Sludge e Your Kind of Life

/ Por: Cleber Facchi 11/10/2019

De todos os projetos que movimentaram a cena nova-iorquina na segunda metade dos anos 2000, como Crystal Stilts e The Pains of Being Pure at Heart, o Vivian Girls segue como um dos mais interessantes. Entretanto, depois de três álbuns de estúdio – Vivian Girls (2008), Everything Goes Wrong (2009) e Share the Joy (2011) –, havia uma clara sensação de desgaste por parte do grupo, como se as integrantes da banda, Cassie Ramone (guitarras), Katy Goodman (baixo) e Ali Koehler (bateria), estivessem muito mais interessadas na produção de seus trabalhos paralelos ou em carreira solo do que investir em um novo registro de inéditas.

Não por acaso, passada a turnê de divulgação de Share The Joy, o grupo decidiu encerrar suas atividades. Durante esse processo, Ramone deu vida a dois álbuns em carreira solo — The Time Has Come (2014) e Christmas In Reno (2015) —, enquanto Goodman seguiu com o paralelo La Sera. Nada que parecesse capaz de igualar a boa repercussão do antigo grupo. Não por acaso, o trio nova-iorquino decidiu romper com o período de hiato e se reencontrar em estúdio para a produção de um novo trabalho de inéditas, estímulo para o material entregue no quarto e mais recente registro da banda, Memory (2019, Polyvinyl).

Com produção assinada por Rob Barbato (Girlpool, Kevin Morby), o trabalho de 12 faixas e pouco mais de 30 minutos de duração não apenas segue de onde o trio parou há cinco anos, como reflete um peso e força criativa maior do que qualquer outro registro já produzido pelo Vivian Girls. E isso se reflete logo nos primeiros minutos do disco, na urgência de Most of All. Mergulhada em camadas de distorção, a canção cresce em meio a batidas rápidas e vozes sobrepostas de Ramone e Goodman, como uma interpretação ainda mais intensa do material entregue em Everything Goes Wrong.

Nada que se compare à força descomunal de Sludge, sétima faixa do disco. Densa e lenta, pelo menos para os padrões da banda, a canção mostra o esforço do trio nova-iorquino em ampliar os próprios limites criativos, revelando ao público uma canção que parece saída do início dos anos 1990. São blocos imensos de ruídos que se completam pela inserção de melodias abafadas, vozes tratadas como instrumentos e instantes de doce psicodelia. Uma propositada fuga do punk litorâneo que há tempos tem sido explorado não apenas pelo Vivian Girls, mas outros grupos que surgiram no mesmo período, como Dum Dum Girls e Best Coast.

Mesmo guiado pelas possibilidades, como nas texturas detalhistas de Your Kind of Life ou no pop nostálgico de Mistake, a todo instante o trio regressa ao habitual universo criativo detalhado nos primeiros registros de estúdio. São músicas como a furiosa Something To Do, Sick e a própria faixa de abertura do disco, Most of All. Canções em que o trio norte-americano utiliza de conflitos intimistas, relacionamentos fracassados e o tédio da vida adulta como um estímulo natural para a composição dos versos, estreitando a relação com o ouvinte logo nos primeiros minutos.

Trabalho mais completo do Vivian Girls desde o primeiro álbum de estúdio, Memory traz de volta todos os elementos que apresentaram o grupo nova-iorquino no fim da década passada, porém, partindo de um novo envelopamento estético. Não se trata de uma obra revolucionária, mas de uma criativa reciclagem de tendências, estrutura que revela ao público desde faixas marcadas pela profunda entrega de cada integrante, como em All Your Promisses e a já citada Sludge, até canções que se projetam de forma escapista, brindando o ouvinte com uma soma de boas guitarras e versos sempre descomplicados.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.