De Marvin Gaye à Britney Spears, de Afrika Bambaataa a Kanye West, sobram artistas que encontraram na força da bateria eletrônica Roland TR-808 um importante componente criativo para a realização dos próprios trabalhos. Sempre em busca de novas possibilidades e estudioso dos ritmos periféricos, Wado fez justamente do instrumento a base para o sexto álbum de estúdio da carreira: Samba 808. Como o título do trabalho aponta, trata-se de uma tentativa do músico catarinense naturalizado alagoano em dar novo acabamento ao samba. São vestes sintéticas, ruídos e batidas eletrônicas que vão do recolhimento às pistas de forma sempre inexata, torta. Um precioso exercício temático que preserva parte da essência detalhada nos antecessores Terceiro Mundo Festivo (2008) e Atlântico Negro (2009), porém, se permite avançar criativamente.

Dentro desse cenário marcado pelas possibilidades, Wado faz de cada composição um elemento de diálogo com diferentes representantes da música brasileira. São nomes como Zeca Baleiro, na introdutória Si Próprio, Chico César, em Surdos de Escola de Samba, Curumin, em Esqueleto, e a dupla composta por Alvinho Lancellotti e André Abujamra, com quem divide a derradeira Beira Mar. Nada que se compare ao sucesso em torno da ensolarada Com a Ponta dos Dedos, bem-sucedida colaboração com o casal Marcelo Camelo e Mallu Magalhães. Mesmo canções assumidas individualmente, como Não Para e a melancólica Vai Ver, refletem o completo esmero do artista durante toda a execução da obra, riqueza que se estende da imagem de capa do disco à formação das batidas, melodias e versos.

Este texto faz parte da nossa lista com Os 100 Melhores Discos Brasileiros dos Anos 2010 que será publicada ao longo das próximas semanas. São revisões mais curtas ou críticas reescritas de alguns dos trabalhos apresentados ao público na última década. Leia a publicação original.