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Crítica

Wavves

: "Hideaway"

Ano: 2021

Selo: Fat Possum

Gênero: Indie Rock, Garage Rock

Para quem gosta de: Cloud Nothings e Ty Segall

Ouça: Help is on the Way e Sinking Feeling3

7.0
7.0

Wavves: “Hideaway”

Ano: 2021

Selo: Fat Possum

Gênero: Indie Rock, Garage Rock

Para quem gosta de: Cloud Nothings e Ty Segall

Ouça: Help is on the Way e Sinking Feeling3

/ Por: Cleber Facchi 04/08/2021

É sempre uma diversão enorme ouvir qualquer novo álbum do Wavves. Guitarras barulhentas, melodias radiantes e letras que parecem pensadas para grudar na cabeça do ouvinte logo em uma primeira audição. Uma permanente repetição de ideias que se reflete desde a entrega do acessível King of the Beach (2010), obra que marca a busca de Nathan Williams por uma sonoridade cada vez menos ruidosa, mas que em nenhum momento soa cansativa ou perde o frescor, conceito que volta a se repetir com a chegada de Hideaway (2021, Fat Possum), primeiro registro de inéditas do músico desde o material entregue em You’re Welcome (2017), de onde vieram faixas como Million Enemies e No Shape, e uma natural extensão de tudo aquilo que Williams tem produzido nos últimos anos.

Concebido em um estúdio caseiro montado em um galpão nos fundos da casa dos pais de Williams, onde o músico gravou seus primeiros registros, Hideaway nasce como uma tentativa do guitarrista em revisitar o próprio passado e mergulhar em conflitos pessoais. São composições marcadas pelo forte caráter intimista dos versos, porém, nunca melodramáticas, resultado da co-produção e finalização atenta do experiente Dave Sitek, baterista do TV On The Radio e músico conhecido pelo trabalho como colaborador de artistas como Yeah Yeah Yeahs e Foals. O resultado desse processo criativo está na entrega de um material dotado de sentimento, mas que preserva a aceleração e atmosfera ensolarada que orienta as canções dos antecessores Afraid of Heights (2013) e V (2015).

E isso fica bastante evidente logo nos primeiros minutos do trabalho, na faixa-título do disco. “Vou fazer o meu melhor para me esconder / De todas as besteiras que estão me perseguindo / Eu não me importo com o tempo me apagando / Tem sido uma tortura existir há tanto tempo“, confessa Williams enquanto guitarras crescentes e melodias cantaroláveis pervertem a melancolia existencialista que toma conta dos versos. É como se o músico fizesse dessa abordagem contrastante um precioso componente de estímulo para a construção do registro, capturando a atenção do ouvinte sem grandes dificuldades. São momentos de maior vulnerabilidade e entrega sentimental, mas que nenhum momento pervertem a fluidez enérgica e explosões rítmicas típicas do Wavves.

Exemplo disso acontece na dobradinha composta por Help Is On the Way e Sinking Feeling. São pouco menos de sete minutos em que Williams, responsável por parte expressiva dos instrumentos, parece jogar com os instantes, brincando com a inserção de guitarras carregadas de efeitos, harmonias de vozes e batidas rápidas. Um ziguezaguear de ideias que naturalmente preserva tudo aquilo que o músico havia testado em King of the Beach, porém, incorporando o forte caráter emocional que serve de sustento ao presente disco. Mesmo quando desaba sentimentalmente, como na dolorosa Honeycomb (“E eu não consigo encontrar ninguém / Eu, eu sinto que estou morrendo“), há sempre um gancho melódico que impede o trabalho de ser consumido pelos excessos.

Mesmo nesse cenário de regras próprias e canções que parecem ancoradas em conceitos bastante específicos, o músico de São Diego aproveita para provar de novas possibilidades. É o caso de The Blame, um country-rock-litorâneo que combina todos os elementos que apresentaram o Wavves há mais de uma década, porém, temperado pela essência sertaneja que vai das guitarras ao encaixe das batidas. Nada que se compare ao material entregue na derradeira Caviar. Entre camadas de sintetizadores e batidas lentas, Williams não apenas muda de direção, pervertendo parte da urgência instaurada logo nos primeiros minutos do trabalho, como investe na construção de versos marcados pelo forte romantismo. “Eu irei até você se eu quiser / E é o fim, garota / Para sempre“, confessa.

Dividido entre momentos de sutil transformação e músicas que concentram o que há de mais característico no som produzido pelo Wavves, Williams entrega ao público um registro que pouco avança criativamente, mas que encanta o ouvinte sem grandes dificuldades. Trata-se de uma obra essencialmente equilibrada, previsível, mas não menos interessante, como um acumulo natural de tudo aquilo que o compositor norte-americano tem produzido desde o início da carreira, porém, reconfigurado de forma a favorecer os versos marcados por questões existencialistas e momentos de doce melancolia. Um criativo cruzamento de ideias, arranjos descompromissados e fragmentos sentimentais que orienta com a experiência do público até a música de encerramento do disco.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.