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Crítica

Waxahatchee

: "Saint Cloud"

Ano: 2020

Selo: Merge

Gênero: Indie Rock, Folk Rock, Alt. Country

Para quem gosta de: Lucy Dacus, Torres e Jenny Lewis

Ouça: Lilacs e Can't Do Much

8.5
8.5

Waxahatchee: “Saint Cloud”

Ano: 2020

Selo: Merge

Gênero: Indie Rock, Folk Rock, Alt. Country

Para quem gosta de: Lucy Dacus, Torres e Jenny Lewis

Ouça: Lilacs e Can't Do Much

/ Por: Cleber Facchi 01/04/2020

Quando deu vida aos primeiros trabalhos como Waxahatchee, caso de American Weekend (2012) e Cerulean Salt (2013), Katie Crutchfield parecia simplesmente seguir a fórmula de outros nomes recentes da cena norte-americana, mergulhando de forma nostálgica no rock produzido entre o final dos anos 1980 e início da década de 1990. Um misto de passado e presente, reverência e fino toque de transformação que embala algumas das principais faixas entregues pela cantora e compositora estadunidense durante o período, caso de Coast to Coast, Dixie Cups and Jars e Be Good.

Entretanto, com a chegada de Ivy Tripp (2015) e sequência formada entre Out in the Storm (2017) e Great Thunder EP (2018), a sonoridade adotada pela artista do Alabama passou a ser outra. Composições que atravessam os habituais blocos de ruídos levantados pela multi-instrumentista para mergulhar no cancioneiro dos anos 1970. O mesmo olhar curioso para o passado, porém, partindo de um novo direcionamento estético, proposta que ganha ainda mais destaque nas canções do saudosista Saint Cloud (2020, Merge), quinto e mais recente álbum de estúdio de Crutchfield.

Como indicado durante o lançamento de Fire, composição escolhida para anunciar a chegada do disco, Crutchfield estabelece no refinamento das melodias a base para grande parte da obra. “E eu estou de joelhos / Eu sou um pássaro nas árvores / Eu posso aprender a ver com uma vista parcial / Eu posso aprender a ser fácil enquanto me aproximo de você“, confessa enquanto guitarras pontuais se espalham em meio a sintetizadores minimalistas, como um complemento à voz doce da cantora. Frações poéticas que utilizam de memórias, medos e instantes de profunda entrega sentimental, conceito que se reflete até o último instante do álbum.

Exemplo disso está em The Eye, composição encontra em elementos da música sertaneja a passagem para o lado mais sensível do trabalho. São guitarras empoeiradas, melodias acústicas e versos marcados pela força dos sentimentos, estrutura que naturalmente dialoga com a obra de veteranas do gênero, como Lucinda Williams e Gilian Welch. O mesmo cuidado acaba se refletindo em outros momentos ao longo do trabalho, vide o material apresentado em Arkadelphia, Witches e toda a sequência de músicas que embalam a segunda metade do registro.

Entretanto, é justamente quando perverte parte dessa estrutura e resgata elementos dos primeiros registros autorais que o trabalho de Waxahatchee encanta e cresce. Perfeita representação desse resultado está no rock ensolarado de Can’t Do Much, logo na abertura do disco. São camadas de guitarras e vozes tratadas de forma sempre acessível, como uma interpretação colorida da atmosfera cinza que embala o antecessor Great Thunder. “Eu quero você o tempo todo“, canta enquanto prepara o terreno para a também convidativa Lilacs, canção que mostra a capacidade de Crutchfield em dialogar com uma parcela maior do público.

Equilibrado, como tudo aquilo que tem sido entregue por Waxahatchee nos últimos anos, Saint Cloud reflete o desejo da artista norte-americana em se reinventar dentro de estúdio, porém, preservando parte da essência detalhada desde a estreia com American Weekend. Um esforço conceitual que parte de inquietações particulares da própria musicista, passa pela produção minuciosa de Brad Cook (Bon Iver, Whitney) e segue em meio a faixas marcadas pelo completo refinamento criativo, cuidado que se reflete até o último instante do álbum, na sutileza da autointitulada faixa de encerramento.



Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.