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Críticas

Girlpool

: "What Caos Is Imaginary"

Ano: 2019

Selo: Anti-

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Frankie Cosmos e Elliott Smith

Ouça: Hire e What Caos Is Imaginary

8.0
8.0

Crítica: “What Caos Is Imaginary”, Girlpool

Ano: 2019

Selo: Anti-

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Frankie Cosmos e Elliott Smith

Ouça: Hire e What Caos Is Imaginary

/ Por: Cleber Facchi 07/02/2019

Com o lançamento de Powerplant (2017), Cleo Tucker e Harmony Tividad alcançaram um novo estágio na curta discografia do Girlpool. Composições como 123, Your Heart e It Gets More Blue que serviram para aproximar o som produzido pela dupla norte-americana de uma estrutura ainda mais acessível, melódica, como uma clara evolução do material entregue no primeiro registro de inéditas, Before The World Was Big (2015). Um permanente exercício de transformação e ruptura conceitual que assume novo direcionamento nas canções do terceiro e mais recente álbum de estúdio da banda, What Caos Is Imaginary (2019, Anti-).

Marcado pelo reforço das guitarras e declarada busca da dupla de Los Angeles por um som menos plástico, o registro de 14 faixas sintetiza nesse renovado posicionamento estético parte da transformação pessoal que vem sendo vivenciada por Tucker desde o último ano. Em processo de transição de gênero, o músico transfere para dentro de estúdio parte dessa nova identidade, mudança evidente no uso da voz, lirismo e novos temas que servem de sustento ao trabalho.

Eu me permito viver como em um dia de pagamento / Eu não posso deixar de ser, tenho muita memória / Apenas uma olhada na história tranquila“, canta em Hire, música em que reflete de forma evidente sobre essa nova fase, conceito que se reflete nas pequenas variações melódicas que tanto lembram a leveza de Elliott Smith, como a brutalidade e força do Built To Spill. Um precioso exercício de entrega sentimental, direcionamento que se reflete logo nos primeiros minutos do disco, em Lucy’s, canção marcada pelos desajustes de um relacionamento prestes a desmoronar.

Interessante perceber que a mesma poesia sensível do disco ganha contornos ainda mais tocantes na voz de Tividad. Exemplo disso está na própria faixa-título do trabalho. São pouco mais de cinco minutos em que a musicista canta sobre a própria depressão, isolamento e completa incapacidade em se organizar emocionalmente. Mesmo a base da canção, orquestrada a partir de arranjos de cordas e sintetizadores atmosféricos transporta o som produzido pelo Girlpool para um novo território, como uma fuga do reformado rock caseiro que há tempos vem sendo explorado pela dupla.

De fato, What Caos Is Imaginary talvez seja o registro em que Tucker e Tividad mais se aventuram dentro de estúdio. Há desde composições introspectivas, sutilmente confortadas na inserção de temas acústicos, como Hoax and The Shrine, até faixas marcadas pela colagem de elementos e referências extraídas de diferentes campos da música, caso da versátil Where You Sink. Uma colorida fluidez dos arranjos que vai da atmosfera nostálgica em Pretty ao uso de batidas e sobreposições eletrônicas, ponto de partida para a atmosférica Chemical Freeze.

Mesmo tratado como um produto direto das ideias, conflitos e experiências recentes de cada integrante da banda, What Caos Is Imaginary acaba se transformando no trabalho em que o Girlpool melhor dialoga com o próprio público. Canções tão pessoais e tocantes que parecem compostas especialmente para o ouvinte. Um evidente exercício de refinamento poético e instrumental que revela ao público desde músicas deliciosamente contidas, como All Blacked Out, até faixas de essência caótica, estrutura que se reflete com naturalidade em Swamp and Bay.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.