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Crítica

Whitney

: "Candid"

Ano: 2020

Selo: Secretly Canadian

Gênero: Indie Folk, Folk Rock

Para quem gosta de: Big Thief, Kevin Morby e Bon Iver

Ouça: Take Me Home, Country Roads e Hammond Song

7.5
7.5

Whitney: “Candid”

Ano: 2020

Selo: Secretly Canadian

Gênero: Indie Folk, Folk Rock

Para quem gosta de: Big Thief, Kevin Morby e Bon Iver

Ouça: Take Me Home, Country Roads e Hammond Song

/ Por: Cleber Facchi 19/08/2020

Um bom disco de versões sempre alcança um ponto de equilíbrio entre o que define a essência de um artista e a busca por novas possibilidades. Instantes em que somos convidados a conhecer algumas das principais referências criativas do realizador, porém, sempre surpreendidos pela inserção de músicas que não necessariamente seriam relacionadas a ele. É partindo justamente desse conceito que os parceiros Max Kakacek e Julien Ehrlich apresentam ao público o terceiro álbum de estúdio do Whitney, Candid (2020, Secretly Canadian), um delicado conjunto de ideias que preserva a identidade da dupla, mesmo transitando por entre vias pouco convencionais para uma obra do gênero.

Não por acaso, Kakacek e Ehrlich inauguram o disco com a releitura de Bank Head. Originalmente lançada como parte do elogiado Cut 4 Me (2013), trabalho que apresentou a obra de Kelela a uma parcela ainda maior do público, a canção deixa de lado o R&B eletrônico da versão inicial para mergulhar em um soul acústico que se conecta diretamente ao som incorporado no último registro de inéditas do Whitney, Forever Turned Around (2019). Um lento desvendar ideias e elemento, como se a dupla apontasse a direção seguida até a derradeira Rainbows & Ridges, parte do registro homônimo apresentado pelo cantor e compositor norte-americano Blaze Foley há quase quatro décadas.

São esses mesmos cruzamentos entre passado e presente que tornam a experiência do ouvir o trabalho tão satisfatória. De um lado, preciosidades como Hammond Song, música originalmente lançada como parte do autointitulado registro de estreia do grupo The Roches, em 1979, no outro, canções completamente imprevisíveis, caso de Strange Overtones, faixa que marca o reencontro entre David Byrne e Brian Eno, no ótimo Everything That Happens Will Happen Today, de 2008. Diferentes décadas, cenas e tendências que se entrelaçam de forma sutil, indicativo do completo domínio de Kakacek e Ehrlich em relação ao próprio trabalho.

Dentro desse cenário marcado pelas possibilidades, surgem faixas como a colaborativa Take Me Home, Country Roads. Um dos clássicos de John Denver em Poems, Prayers & Promises (1971), a versão do Whitney preserva parte da criação original, porém, cresce no tratamento dado aos pianos e delicada participação de Katie Crutchfield, do Waxahatchee, artista que lançou há poucos meses o ótimo Saint Cloud (2020). O mesmo resultado acaba se refletindo mais à frente, em Crying, Laughing, Loving, Lying, registro que preserva a essência de Labi Siffre, músico norte-americano que apresentou a canção em 1972, porém, em uma linguagem atualizada.

Entretanto, é justamente quando Kakacek e Ehrlich pervertem a versão original do repertório escolhido que o álbum encanta e cresce. Perfeita representação desse resultado ecoa com naturalidade em A.M. AM, segunda faixa do disco. Parte do ótimo Visions of Us on the Land (2016), obra de Damien Jurado que contou com produção de Richard Swift, a canção deixa de lado o acabamento ruidoso e atmosférico da versão original para mergulhar em um soul-folk cristalino, típico do Whitney. Da construção dos arranjos ao uso da voz, tudo faz lembrar do material produzido pela banda de Chicago desde a estreia com Light Upon the Lake (2016).

Uma vez imerso nesse cenário, Kakacek e Ehrlich garantem ao público uma obra que se conecta aos dois primeiros trabalhos de estúdio da banda, porém, instigam o ouvinte a explorar os registros originais de cada composição escolhida pela dupla. Instantes em que somos transportados do pop da década de 1970 ao R&B dos anos 2010 sem necessariamente romper com a ambientação acústica que caracterizam as criações do Whitney desde as primeiras criações autorais. Mais de seis décadas de música condensadas em uma obra de essência universal, capaz de dialogar com os mais variados públicos.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.