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Crítica

Whitney

: "Forever Turned Around"

Ano: 2019

Selo: Secretly Canadian

Gênero: Indie, Folk Rock

Para quem gosta de: Big Thief, Kevin Morby e Bon Iver

Ouça: Giving Up e Used to Be Lonely

7.6
7.6

“Forever Turned Around”, Whitney

Ano: 2019

Selo: Secretly Canadian

Gênero: Indie, Folk Rock

Para quem gosta de: Big Thief, Kevin Morby e Bon Iver

Ouça: Giving Up e Used to Be Lonely

/ Por: Cleber Facchi 04/09/2019

A leveza explícita em Light Upon the Lake (2016) continua a reverberar pelo trabalho do Whitney. Três anos após o lançamento do primeiro álbum de estúdio da carreira, Max Kakacek e Julien Ehrlich estão de volta com um novo e delicado registro de inéditas. Intitulado Forever Turned Around (2019, Secretly Canadian), o disco completo pela presença de um time seleto de instrumentistas sutilmente aponta para o folk psicodélico da década de 1970, reforçando a relação do grupo de Chicago com a obra de veteranos do cancioneiro norte-americano, porém, preservando a identidade e fino lirismo melancólico que há tempos vem sendo destilado pela banda.

Esperando o Sol da manhã / Você está voltando para casa, meu amor? / Lágrimas estão caindo, uma a uma / Eu posso sentir você desistindo“, canta Ehrlich na inaugural Giving Up. São versos entristecidos que apontam a direção seguida pelo grupo no restante da obra. Instantes de profunda vulnerabilidade, sempre centrados em relacionamentos fracassados e inevitável distanciamento entre os indivíduos. “Embora tenhamos começado a perder o contato / Eu tenho aguentado porque / Você é a único que eu amo / Mesmo quando você está desistindo“, completa.

A mesma melancolia acaba se refletindo em Used To Be Lonely, música que nasce como um complemento direto ao material entregue na introdutória Giving Up. “Bem, não fazia nenhum sentido / Até você aparecer / Eu tenho medo de que você está deixando ir / Porque a única vida que eu já conheci / Costumava ser solitário“, confessa enquanto violões se espalham de forma delicada, quase atmosférica, estrutura que naturalmente aponta para o entristecido For Emma, Forever Ago (2007), álbum de estreia do Bon Iver. São frações românticas, sempre intimistas, proposta que rege o disco até a derradeira faixa-título.

Curioso notar que mesmo consumido pela dor, Forever Turned Around em nenhum momento soa como uma obra arrastada, difícil de ser absorvida pelo ouvinte. Pelo contrário: a identificação com os versos lançados por Ehrlich é quase imediata. São poemas curtos, sempre honestos, como uma interpretação natural do desgaste que consome a vida a dois. Trata-se de uma obra guiada pelos instantes, como memórias de um relacionamento recente que surgem e desaparecem a todo instante, estrutura que se completa pela rica base instrumental do disco.

De fato, quando próximo do antecessor Light Upon the Lake, Forever Turned Around talvez seja o trabalho em que o Whitney mais se permite testar os próprios limites. São pianos minimalistas e metais em Friend of Mine; a guitarra precisa de Giving Up, típica do Wilco em Sky Blue Sky (2007); camadas instrumentais e harmonias de vozes na crescente Valleys (My Love). Surgem até composições como a inusitada Rhododendron, faixa de essência jazzística que parece dialogar com o primeiro álbum de estúdio do Resavoir, projeto paralelo composto por membros do próprio Whitney.

Talvez monotemático, problema evidente desde o material apresentado em Light Upon the Lake, Forever Turned Around chama a atenção pela forma como os integrantes do Whitney falseiam novidade mesmo ancorados em uma base temática há muito explorada por outros artistas. Parte desse resultado vem da forma como melodias e versos estão intimamente conectados, fazendo desse permanente ato de Ehrlich em revisitar as próprias experiências românticas um exercício naturalmente curioso. O resultado desse processo está na entrega de uma obra talvez simples, porém, capaz de estimular as emoções e memórias de qualquer indivíduo.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.