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Críticas

Deerhunter

: "Why Hasn't Everything Already Disappeared?"

Ano: 2019

Selo: 4AD

Gênero: Rock Alternativo, Experimental

Para quem gosta de: Atlas Sound e Lotus Plaza

Ouça: Death in Midsummer e No One’s Sleeping

8.0
8.0

Crítica: “Why Hasn’t Everything Already Disappeared?”, Deerhunter

Ano: 2019

Selo: 4AD

Gênero: Rock Alternativo, Experimental

Para quem gosta de: Atlas Sound e Lotus Plaza

Ouça: Death in Midsummer e No One’s Sleeping

/ Por: Cleber Facchi 22/01/2019

O som delirante incorporado pelo Deerhunter durante o lançamento de Fading Frontier (2015) continua a reverberar nas canções de Why Hasn’t Everything Already Disappeared? (2019, 4AD). Primeiro álbum de estúdio do grupo norte-americano em quatro anos, o registro que conta com produção fragmentada entre diferentes músicos, como Cate Le Bon, Ben H. Allen e os próprios integrantes da banda, não apenas preserva a essência psicodélica que vem sendo incorporada desde o amadurecimento do grupo, em Halcyon Digest (2010), como avança criativamente, revelando um olhar curioso sobre música produzida nos anos 1960 e 1970.

Inaugurado pela melodia nostálgica que escapa do cravo de Le Bon, o registro de dez faixas ganha forma aos poucos, revelando incontáveis camadas instrumentais e poéticas que sintetizam o completo refinamento do grupo estadunidense. De fato, é necessária uma imersão completa para perceber a riqueza de detalhes que correm ao fundo do registro. São melodias empoeiradas (No One’s Sleeping), uso de temas percussivos (Plains) e colisões de guitarras (Futurism) que transportam o som produzido pelo Deerhunter para um novo universo criativo.

Exemplo disso está em Tarnug. São pouco mais de três minutos em que vozes etéreas lançadas por Bradford Cox e Le Bon se espalham em meio a sintetizadores atmosféricos, variações jazzísticas e uma base cíclica que se projeta de forma a emular um mantra. Na experimental Détournement, uma chuva de sintetizadores parece cobrir toda a superfície da canção, como um diálogo claro da banda com a obra de Brian Eno. Mesmo faixas que se aproximam dos antigos trabalhos do grupo, como Futurism, encantam pela colagem de ritmos e delicadas costuras dos elementos.

Para além da rica base instrumental que serve de sustento ao disco, interessante perceber em Why Hasn’t Everything Already Disappeared? o completo amadurecimento de Cox na composição dos versos. É o caso de Death in Midsummer, música que busca referências em elementos da revolução russa e na opressão sofrida pelos trabalhadores em meio ao fogo cruzado de incontáveis articulações políticas. Composições que mostram o desejo da banda em perverter o lirismo intimista que vinha sendo testado desde a boa fase em obras como Microcastle (2008).

Parte expressiva dessa transformação vem do claro esforço de Cox em trabalhar a construção dos versos a partir de fatos históricos antigos e recentes. Do assassinato da deputada britânica Jo Cox (1974 – 2016), em No One’s Sleeping, passando pelos últimos dias de vida do ator James Dean (1931 – 1955), em Plains, cada composição do disco se projeta como uma minuciosa crônica musicada. Frações poéticas que utilizam de reflexões políticas, a descrença no ser humano e a sufocante relação de proximidade com morte, elemento há muito detalhado nas canções da banda.

Nada imediato em relação aos últimos registros do Deerhunter, Why Hasn’t Everything Already Disappeared? mostra o esforço do grupo norte-americano em se reinventar criativamente, porém, preservando parte expressiva do som incorporado desde o início da carreira. Não por acaso, este é justamente o trabalho que contou com a maior colaboração de diferentes instrumentistas, como o guitarrista Tim Presley, e um time seleto de produtores. Interferências pontuais e rupturas conceituais que sutilmente afastam a banda de uma possível zona de conforto.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.