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Crítica

Wilco

: "Ode To Joy"

Ano: 2019

Selo: dBpm

Gênero: Rock Alternativo, Folk Rock

Para quem gosta de: My Morning Jacket e Phosphorescent

Ouça: Quiet Amplifier e Love Is Everywhere

7.8
7.8

Wilco: “Ode To Joy”

Ano: 2019

Selo: dBpm

Gênero: Rock Alternativo, Folk Rock

Para quem gosta de: My Morning Jacket e Phosphorescent

Ouça: Quiet Amplifier e Love Is Everywhere

/ Por: Cleber Facchi 16/10/2019

Os últimos anos foram bastante produtivos para quem acompanha o trabalho de Jeff Tweedy. Depois de dois álbuns lançados em sequência pelo Wilco, Star Wars (2015) e Schmilco (2016), o cantor e compositor norte-americano decidiu investir no trabalho em carreira solo. O resultado desse intenso processo de composição está na entrega dos confessionais Warm (2018) e Warmer (2019), além, claro, da coletânea de versões Together at Last (2017), trabalho que resgata uma série de canções produzidas pelo artista em mais de três décadas de carreira. Um delicado exercício criativo que alcança novo resultado nas canções de Ode To Joy (2019, dBpm), 11º registro de inéditas do grupo de Chicago e o princípio de uma nova fase na carreira da banda.

Menos urgente em relação aos trabalhos que o antecedem, o registro que conta com co-produção de Tom Schick (Real Estate, Sean Lennon) nasce como um refúgio sentimental e poético em um cenário marcado pelo caos. São versos contemplativos, alternando entre a permanente angústia do eu lírico e a necessidade de seguir em frente. Canções que se projetam como uma reflexão particular, sempre metafórica, sobre o atual cenário político dos Estados Unidos, o avanço de governos autoritários e o permanente distanciamento entre os indivíduos, conceito que tem sido explorado pelo Wilco desde o amadurecimento criativo em Being There (1996).

Não por acaso, a primeira metade do registro é tratada de forma puramente atmosférica, como se Tweedy e seus parceiros de banda, Nels Cline, Mikael Jorgensen, Glenn Kotche, Pat Sansone e John Stirratt, introduzissem o ouvinte ao conceito da obra. Do uso contido da voz ao detalhismo na formação dos arranjos, tudo se revela ao público em pequenas doses, sem pressa, estrutura faz de Ode To Joy o trabalho mais delicado da banda desde o bucólico Sky Blue Sky (2007). Exemplo disso está na lenta construção de Quiet Amplifier. São pouco menos de seis em que minuciosas paisagens instrumentais servem de complemento aos versos. Melodias e vozes que encolhem e crescem a todo instante, como se Tweedy fizesse da composição um mantra. “Eu esperei minha vida inteira / Eu tentei, no meu caminho, amar a todos“, confessa enquanto texturas minimalistas correm ao fundo da canção.

A própria faixa de abertura do disco, Bright Leaves, com suas batidas e guitarras cíclicas, parece apontar a direção seguida pela banda no restante da obra. São distorções contidas, pianos e ambientações pontuais que se conectam diretamente aos versos ora declamados, ora cantados pelo artista. “De alguma forma, somos folhas brilhantes / Você e eu sob a neve velha / Libertados pela chuva de inverno / E eu sei que isso nunca vai mudar / Você nunca muda / Você nunca vai mudar“, reflete. Frações instrumentais e poéticas que convidam o ouvinte a se perder em um universo próprio de Tweedy, conceito reforçado na poesia de Hold Me Anyway e, principalmente, no romantismo agridoce de One and a Half Stars.

Mesmo trabalhado de forma contida, Ode To Joy em nenhum momento inviabiliza a composição de faixas menos atmosféricas, como uma fuga do restante da obra. É o caso de Everyone Hides. Enquanto os versos discutem a personalidade mascarada da qualquer indivíduo — “Se você está se vendendo em uma visão / Um sonho de quem você é … Lembre-se, isso não pode ser negado / Todo mundo se esconde” —, musicalmente a canção ganha forma em meio a batidas e guitarras rápidas, rompendo com a morosidade que rege o disco. A própria Love Is Everywhere (Beware), mesmo trabalhada em uma estrutura climática, revela ao público uma solução de melodias detalhistas, cuidado também explícito na derradeira An Empty Corner.

Maior a cada nova audição, Ode To Joy sutilmente revela ao público um universo de pequenos detalhes, como se incontáveis camadas instrumentais e líricas fossem trabalhadas no interior de cada composição. Um misto de sequência e fina desconstrução do material entregue por Jeff Tweedy nos dois últimos registros em carreira solo, conceito que se reflete na profunda entrega sentimental que embala a construção dos versos, porém, partindo de um direcionamento menos autobiográfico, ancorado em preceitos universais. Instantes que refletem a capacidade da banda norte-americana em se reinventar dentro de estúdio, mesmo resgatando uma série de elementos detalhados ao longo de toda a carreira.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.