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Crítica

Will Butler

: "Generations"

Ano: 2020

Selo: Merge

Gênero: Pop Rock, Synthpop, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Arcade Fire e The Killers

Ouça: Surrender e Close My Eyes

7.5
7.5

Will Butler: “Generations”

Ano: 2020

Selo: Merge

Gênero: Pop Rock, Synthpop, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Arcade Fire e The Killers

Ouça: Surrender e Close My Eyes

/ Por: Cleber Facchi 09/10/2020

Quando se é parte de um dos grupos mais influentes da história da música, como o Arcade Fire, difícil não criar expectativa em relação a qualquer novo lançamento de seus integrantes. E foi justamente lidando com esses olhares curiosos que Will Butler, irmão do vocalista Win, revelou ao público o primeiro registro em carreira solo, Policy (2015). Misto de sequência e fina desconstrução do material entregue anos antes, em Reflektor (2013), quarto álbum do coletivo canadense, o disco que trouxe músicas como Something’s Coming e Anna parecia indicar a busca do cantor pela consolidação da própria identidade artística, direcionamento que parece melhor resolvido nas canções de Generations (2020, Merge).

Cercado de novos colaboradores, como Miles Francis (bateria, percussão, sintetizadores e violão), Sara Dobbs (voz), Julie Shore (sintetizadores, piano, guitarra e voz) e Jenny Shore (sintetizadores de voz), Butler, que se divide entre a produção e parte dos instrumentos, diz a que veio logo nos primeiros minutos do trabalho, em Outta Here. São pouco menos de cinco minutos em que o músico norte-americano e seus parceiros de banda brincam com a lenta inserção de cada elemento, rompendo com som incorporado no disco anterior para fazer uso de ambientações sintéticas que ora pontam para o pop dos anos 1980, ora fazem lembrar de obras como Vanishing Point (1997) e XTRMNTR (2000), do Primal Scream.

É partindo dessa lenta inserção de cada componente que Butler orienta a experiência do ouvinte até o último instante da obra. Canções que partem de uma base minimalista, porém, crescem de forma gradual, incorporando novos instrumentos, batidas e vozes de forma grandiosa, conceito que muito se assemelha ao trabalho do próprio Arcade Fire, no cultuado The Suburbs (2010). Não por acaso, o cantor fez de Close My Eyes uma das primeiras composições do álbum a serem apresentadas ao público. São camadas de sintetizadores e melodias nostálgicas que ganham forma em meio a coros de vozes, palmas e assobios, cercando e confortando o ouvinte dentro desse território marcado pelas preferências e sentimentos do artista.

Dos poucos momentos em que perverte parte dessa estrutura e traz de volta as guitarras de Policy, Butler confessa algumas de suas referências criativas. É o caso de Surrender, música que vai de David Bowie a Bruce Springsteen, de Billy Joel a Elvis Costello em um criativo jogo de vozes, melodias e batidas cuidadosamente encaixadas dentro de estúdio. “Bem, eu lembro de tudo / Eu poderia te contar a verdade / E eu poderia dizer o que disse / Mas estou tão cansado, estou tão cansado agora“, confessa. Instantes em que o músico texano utiliza das próprias experiências como forma de dialogar com o ouvinte, convidado e reviver conflitos sentimentais, medos e desejos.

Entretanto, para além das próprias experiências, interessante perceber a forma como Butler investe em novas temáticas durante toda a execução do trabalho. São letras marcadas por questões políticas, a frieza das relações humanas e momentos de forte inquietação. “Se você tem um segredo / Bem, todo mundo sabe disso … É só dinheiro e poder / Dinheiro e poder podem libertá-los“, canta em Hide It Away, música que sintetiza parte dessas experiências. É como se o músico incorporasse tudo aquilo que Arcade Fire buscou explorar em Everything Now (2017), porém, de forma bem-sucedida, rompendo com a poesia previsível de músicas como Creature Comfort e Peter Pan.

Interessante notar que mesmo diverso, Generations se revela como uma obra essencialmente equilibrada. Da disposição das faixas no interior do trabalho, passando pela ausência de possíveis excessos, Butler sabe exatamente que direção seguir do início ao fim da obra. Instantes em que o músico texano se permite dialogar com uma parcela ainda maior do público, como em Bethlehem e Close My Eyes, porém, preservando momentos de maior melancolia e contemplação, estímulo para músicas como I Don’t Know What I Don’t Know e Fine, essa última, íntima das criações de Randy Newman. Canções que preservam tudo aquilo que o artista havia testado no disco anterior e ainda se permitem provar de novas possibilidades, ritmos e temáticas.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.