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Crítica

Yaeji

: "What We Drew 우리가 그려왔"

Ano: 2020

Selo: XL Recordings

Gênero: Eletrônica, Techno Pop, Lo-Fi House

Para quem gosta de: 박혜진 Park Hye Jin, Smerz e Tirzah

Ouça: In The Mirror e Waking Up Down

8.0
8.0

Yaeji: “What We Drew 우리가 그려왔”

Ano: 2020

Selo: XL Recordings

Gênero: Eletrônica, Techno Pop, Lo-Fi House

Para quem gosta de: 박혜진 Park Hye Jin, Smerz e Tirzah

Ouça: In The Mirror e Waking Up Down

/ Por: Cleber Facchi 09/04/2020

Longe de qualquer traço de previsibilidade, Yaeji tem feito da criativa desconstrução dos elementos a passagem para cada novo registro autoral. Canções que vão do techno ao R&B em uma linguagem deliciosamente torta, particulr. São fragmentos eletrônicos que se espalham em meio a versos cantados em coreano, ambientações sujas e instantes de doce contemplação, como se do isolamento gerado das gravações em um estúdio montado no próprio quarto, a cantora e produtora nova-iorquina brindasse o ouvinte com um universo de novas possibilidades, estímulo para o material entregue em What We Drew 우리가 그려왔 (2020, XL).

Menos urgente em relação ao conjunto de faixas apresentadas nos dois primeiros EPs de inéditas, What We Drew 우리가 그려왔 encontra na propositada ruptura estética a base para grande parte das canções. São músicas que utilizam de uma estrutura pré-definida, porém, acabam mergulhando em um precioso labirinto de ideias, como se diferentes obras fossem condensadas dentro de um único registro. Um lento desvendar de temas eletrônicos e experiências particulares que mudam de direção a todo instante, indicativo da completas versatilidade da artista.

Perfeita representação desse resultado ecoa com naturalidade na crescente In The Mirror 거울, nona composição do disco. Concebida em meio a versos cíclicos e vozes tratadas como instrumentos, a canção se espalha em um intervalo de quase quatro minutos de pura experimentação. Instantes em que Yaeji vai do uso de temas atmosféricos às pistas de forma completamente imprevisível, mudando de direção a todo instante. A própria faixa-título do álbum, uma das primeiras criações a serem apresentadas ao público, encontra nessa fragmentação dos elementos o estímulo para uma das composições mais inventivas da produtora.

Para além do forte aspecto desafiador do disco, como se Yaeji testasse os próprios limites criativos, interessante perceber em What We Drew 우리가 그려왔 o esforço da artista em estreitar a relação com diferentes colaboradores ao longo do trabalho. Exemplo disso está em Money Can’t Buy, faixa que se abre para a chegada da rapper Nappy Nina, mas que parece saída de alguma coletânea da cena eletrônica de Detroit. Mais à frente, em The Th1ng, um regresso ao mesmo pop etéreo dos primeiros registros da artista, porém, completo pela interferência pontual de Victoriaa Sin e Shy One.

São rimas breves, vozes carregadas de efeitos e inserções quase imperceptíveis que orientam a experiência do ouvinte durante toda a execução do trabalho. Canções como a experimental Free Interlude, em que Yaeji perverte parte da própria essência para flertar com o rap em um bem-sucedido encontro com Sweet Pea, Trenchcoat e Lil Fayo. Mesmo a parceria com G.L.A.M e YonYon, em Spell 주문, parece reforçar esse curioso direcionamento estético. Um olhar curioso para tudo aquilo que a artista havia testado anteriormente, porém, partindo de fórmulas e ambientações pouco convencionais, indicativo claro do desejo da produtora em se reinventar.

Curioso, como tudo aquilo que Yaeji tem produzido desde os primeiros registros autorais, What We Drew 우리가 그려왔 marca o início de uma nova fase na carreira da produtora nova-iorquina. Não por acaso, esse é o primeiro grande lançamento da cantora que conta com distribuição pela XL Recordings. Trata-se de um evidente exercício de transformação, ruptura e busca declarada por novos ritmos e caminhos criativos, como se para além do material detalhado em algumas de suas principais composições, como Noonside, Raingurl e One More, a artista apontasse a direção para os próximos trabalhos.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.