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Crítica

Young Ejecta

: "Ride Lonesome"

Ano: 2020

Selo: Driftless Recordings

Gênero: Synthpop, Electropop

Para quem gosta de: Austra e Caroline Polachek

Ouça: Call My Name e Crayon Cactus

7.5
7.5

Young Ejecta: “Ride Lonesome”

Ano: 2020

Selo: Driftless Recordings

Gênero: Synthpop, Electropop

Para quem gosta de: Austra e Caroline Polachek

Ouça: Call My Name e Crayon Cactus

/ Por: Cleber Facchi 09/07/2020

Não há nada melhor do que um artista que sabe como utilizar de todos os clichês dos anos 1980 a seu favor. E é exatamente isso que você encontra em Ride Lonesome (2020, Driftless Recordings). Segundo e mais recente álbum de estúdio da dupla norte-americana Young Electra, o trabalho que conta com produção dividida entre Leanne Macomber (Neon Indian) e Joel Ford (Ford & Lopatin) estabelece no diálogo com o passado e no intencional resgate de velhas tendências a base para grande parte das faixas. Canções que parecem saídas de uma coletânea gravada há mais de três décadas, proposta que orienta a experiência do público até o último instante da obra.

Não por acaso, a dupla inaugura o disco com a crescente Crayon Cactus. Da criativa sobreposição dos sintetizadores, passando pelo uso instrumental das vozes e batidas sempre calculadas, cada fragmento da canção parece pensado para transportar o ouvinte em direção ao passado. “Não é um milagre? / Meu carro sem motorista está no controle / Seu cartão de crédito me fez sua prostituta … Você costumava chamar isso de romance“, canta Macomber, desabando emocionalmente, proposta que faz da melancolia explícita nos versos um complemento aos temas sutilmente detalhados por Ford.

Mais à frente, em Call My Name, o mesmo processo doloroso na formação dos arranjos e versos. “Eu ouço você chamando / E você sempre se lembrará de mim / Eu não quero que você vá“, confessa. São pouco menos de quatro minutos em que o duo estadunidense parece evocar a obra de veteranos como Roxette e Eurythmics, porém, preservando a própria identidade criativa, conceito que tem sido explorado desde a estreia com Dominae (2013), mas que ganha ainda mais destaque nas canções do presente disco. Um misto de passado e presente, conceito que se reflete até a chegada da derradeira Ranger Danger.

Dos poucos momentos em que perverte esse diálogo com o passado, a dupla estreita a relação com representantes recentes da mesma identidade nostálgica. Exemplo disso acontece em Tired, sexta faixa do disco. Marcada pelo reducionismo dos elementos e vozes carregadas de efeitos, a canção partilha de uma uma série de elementos incorporados por nomes como Caroline Polachek e Austra, além, claro, de resgatar os mesmos temas instrumentais incorporados por Ford no colaborativo Ford & Lopatin (2011), parceria com Daniel Lopatin, do Oneohtrix Point Never.

São justamente essas pequenas quebras conceituais, recortes e canções que transitam por diferentes gêneros que toram a experiência de ouvir Ride Lonesome tão satisfatória. Instantes em que Macomber vai do dream pop ao R&B, como AH HA, ou mesmo faixas que parecem pensadas para as pistas, caso de 9 to 5, música que aponta para a produção eletrônica dos anos 1990, como uma parcial fuga do restante da obra. A própria faixa de encerramento do disco, Ranger Danger, mesmo adornada pelo uso de sintetizadores, mostra o esforço da dupla em se reinventar criativamente.

Trabalho mais acessível já produzido pela dupla estadunidense, Ride Lonesome estabelece nesses pequenos detalhes, melodias sintéticas e composições que passeiam por diferentes campos da música, um evidente ponto de ruptura e fino toque de transformação dentro da curta discografia do Young Ejecta. Do momento em que tem início, na já citada Crayon Cactus, passando por acertos como Can I Dance With You, Call My Name e 9 to 5, cada elemento do disco preserva e ao mesmo tempo perverte tudo aquilo que a banda tem produzido desde a estreia com Dominae, proposta que mantém a atenção do ouvinte em alta até o último segundo do álbum.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.