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Crítica

Yves Jarvis

: "Sundry Rock Song Stock"

Ano: 2020

Selo: ANTI-

Gênero: Soul, Rock Psicodélico, Bedroom Pop

Para quem gosta de: Toro Y Moi e Alex G

Ouça: For Props, In Every Mountain e Semula

7.8
7.8

Yves Jarvis: “Sundry Rock Song Stock”

Ano: 2020

Selo: ANTI-

Gênero: Soul, Rock Psicodélico, Bedroom Pop

Para quem gosta de: Toro Y Moi e Alex G

Ouça: For Props, In Every Mountain e Semula

/ Por: Cleber Facchi 02/10/2020

Sempre prolífico, Jean-Sebastian Audet, o Yves Jarvis, passou os últimos cinco anos imerso em uma delirante experiência lisérgica que se reflete em uma seleção de obras bastante significativas. São experimentações caseiras, com no introdutório Good Will Come to You (2017), ou mesmo instantes em que se permite avançar criativamente, marca do versátil The Same But By Different Means (2019), lançado há poucos meses. Composições que atravessam o pop psicodélico dos anos 1970 para incorporar elementos que vão do neo-soul ao bedroom pop de forma bastante particular, estrutura que ganha novo significado nas canções de Sundry Rock Song Stock (2020, ANTI-).

Terceiro e mais recente trabalho de estúdio do músico canadense, o registro de dez faixas diz a que veio logo nos primeiros minutos. São camadas de sintetizadores, melodias etéreas e vozes que tanto dialogam com a fase mais experimental de Stevie Wonder, vide o curioso Journey Through the Secret Life of Plants (1979), como nomes recentes da produção norte-americana, principalmente o soul atmosférico de Toro Y Moi e as texturas típicas dos trabalhos de Alex G. Um misto de conforto e desconstrução da própria identidade artística, conceito que se reflete à última faixa do disco.

É justamente esse elemento de contraste entre provocar e acolher o ouvinte que torna a experiência de explorar o trabalho tão interessante. Exemplo disso acontece na sequência composta por For Props e Ambrosia. Enquanto a primeira faixa reflete a capacidade do músico em dialogar com uma parcela maior do público, detalhando incontáveis camadas instrumentais, vozes suaves e melodias nostálgicas, na canção seguinte, o direcionamento passa a ser outro. São ruídos e ambientações cósmicas que bagunçam completamente a ordem do disco, como uma extensão do material entregue durante o lançamento de The Same But By Different Means.

Entretanto, mesmo quando busca provocar o ouvinte, como na segunda metade do disco, o músico canadense em nenhum momento ultrapassa um limite pré-definido. São canções que mais parecem interlúdios para os instantes de maior acerto da obra, conceito bastante evidente na dobradinha composta por Emerald e o pop psicodélico de Victim. Pouco mais de oito minutos em que Jarvis vai do encaixe de abstrações sintéticas ao uso de temas reconfortantes, como melodias e vozes que parecem pensadas para confortar o ouvinte. Um delicado exercício criativo que tem sido aprimorado desde Good Will Come to You.

Mesmo os versos detalhados dentro de cada canção incorporam a mesma leveza, como se Jarvis fizesse dos próprios sentimentos, questões existencialistas e romances um precioso componente criativo dentro da obra. “Não consigo sentir empatia / Ou retribuir / Tenho certeza que seu coração está no lugar certo“, canta na já citada For Props, música que sintetiza parte das experiências detalhadas durante toda a execução do álbum. São versos curtos, porém, sempre precisos, como um complemento direto à fina tapeçaria instrumental que serve de sustento ao disco.

Equilibrado e conceitualmente amplo na mesma proporção, Sundry Rock Song Stock incorpora uma série de elementos originalmente testados nos primeiros trabalhos de estúdio do músico canadense, porém, utiliza desse resgate como um trampolim para um novo território criativo. São canções que preservam a essência delirante e pequenas experimentações testadas durante a produção de Good Will Come to You e The Same But By Different Means, mas que encontram na leveza das vozes e ambientações cósmicas o estímulo para uma obra que parece dialogar com uma parcela ainda maior de ouvintes. Se você nunca ouviu Yves Jarvis, comece por esse disco.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.