Disco: “100 Lovers”, DeVotchKa

/ Por: Cleber Facchi 01/02/2011

DeVotchKa
Folk/Gypsy/Alternative
http://www.myspace.com/devotchkamusic

 

Boa parte das bandas que surgiram em meados da década passada inspirados pela música cigana, os ritmos do leste europeu e toda essa sonoridade artesanal passaram com o passar dos anos a sofrer fortemente com o desgaste destes sons. Foi assim com Zach Condon e seu Beirut, Gogol Bordello e sua sonoridade punk cigana, com o A Hawk and a Hacksaw (que ampliou seu território musical no novo álbum para evitar repetições) e também com o quarteto do DeVotchKa, que desde 1997 vem trabalhando com essa miscelânea de influências e vertentes em suas canções.

Em 100 Lovers (2011), o novo lançamento da banda de Denver, a escolha por uma sonoridade menos regionalista se mostra muito mais valorizada. Enquanto nos álbuns Super Melodrama (2000), Una Volta (2003) e A Mad & Faithful Telling (2008) a banda formada por Nick Urata, Tom Hagerman, Jeanie Schroder e Shawn King dava prioridade a composições voltadas para esse lado regional (além de elementos da música dos cabarés e do Tango), com o novo disco o quarteto tenta desenvolver um som mais amplo, captando pequenas doses da World Musica sem se fixar em nada específico.

A escolha por abandonar esse nicho instrumental dá ao grupo a possibilidade de ampliar sua sonoridade e desenvolver melodias mais universais. Todo o detalhismo da banda fica marcado logo em The Alley, a canção que abre o novo álbum. O resultado se aproxima visivelmente do que é trabalhado na estreia do Arcade Fire ou das primeiras composições do The Decemberists. Porém, o foco em uma sonoridade dotada de elementos da música dos anos 20 e 30 é o elemento chave e que vem para dar distinção ao grupo.

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Com esse sexto disco, ao contrário do maior destaque à instrumentação são os vocais de Nick Urata que recebem grande parte da atenção. Não que nos trabalhos anteriores a voz do músico fosse usada de maneira errônea, pelo contrário, o líder do DeVotchKa sempre foi um vocalista excepcional, a única diferença é que em 100 Lovers seus vocais se sobrepõem às bases instrumentais. Em The Man From San Sebastian fica visível o quanto os instrumentos lentamente vão ficando para trás enquanto a voz de Urata vai preenchendo todos os espaços da canção. Tal opção era praticamente inexistente, principalmente nos primeiros lançamentos do grupo em que a delicadeza das composições era o grande chamariz.

Mesmo que o foco da banda não seja mais na utilização de sons “exteriores”, isso não quer dizer que o grupo não se valha de composições tão delicadas quanto as antigamente geradas por eles. Exhaustible é nada mais do que uma simples canção folk, mas que vai se engrandecendo através da inserção de assobios, palmas e uma instrumentação simplista, demonstrando que mesmo apoiado em uma fórmula minimalista o quarteto de Denver sabe como ninguém gerar bons sons.

Aos que se encantaram pelo grupo e suas canções marcadas pela pluralidade instrumental ficam ainda algumas faixas como The Common Good e Contrabanda, embora essas canções acabem lentamente sendo filtradas durante seu desenvolver e aos poucos acabem soando como faixas “comuns”. 100 Lovers pode não ser o melhor trabalho do grupo, não ter o mesmo toque de grandiosidade dos antigos lançamentos, mas impede que o DeVotchKa caia em repetições desnecessárias e soe ainda assim inventivo.

 

100 Lovers (2011)

 

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Beirut, A Hawk and a Hacksaw e Gogol Boredello
Ouça: Exhaustible

Por: Cleber Facchi

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.