Disco: “18 Months”, Calvin Harris

/ Por: Cleber Facchi 02/11/2012

Calvin Harris
British/Electronic/Pop
http://www.calvinharris.co.uk/

Por: Cleber Facchi

Calvin Harris é um tipo de David Guetta dos indies. Dono de uma eletrônica tão farofa quanto a promovida pelo produtor francês – responsável por boa parte dos hits que você deve ter dançado nos últimos anos -, o britânico faz de cada novo trabalho a matéria base para o que vai animar as pistas de moderninhos e fanáticos pela música pop mundo afora. Não diferente é 18 Months (2012, Fly Eye/Columbia) terceiro e mais recente lançamento do produtor de Dumfries, Scotland que longe de quebrar a fórmula bem estabelecida dos trabalhos anteriores vai de encontro a um som ainda mais comercial, fácil e inevitavelmente pegajoso.

Apresentado como um registro de inéditas, o novo disco talvez seja o projeto mais dissecado do produtor desde que Harris apresentou em 2007 o sintetizado primeiro álbum oficial I Created Disco. Entregue em pequenas doses ao longo dos últimos meses, o novo álbum teve boa parte das composições distribuídas ao público antes mesmo do lançamento oficial. Iniciando com Bounce (uma parceria com a cantora Kelis) em junho do último ano, o registro surge totalmente finalizado agora, ainda que boa parte das canções que se revelam no interior dele já sejam bastante íntimas do espectador.

Essa completa ausência de ineditismo não está apenas no fato de já termos nos deparado com grande parte das composições presentes no interior do álbum, mas na maneira como cada criação do atual trabalho se relaciona com outros “clássicos” recentes do produtor. Talvez pela maneira como os sintetizadores se manifestam, ou pela forma como os vocais surgem plásticos em paralelos às batidas, da primeira à última faixa Harris se apresentar exatamente de onde parou com o primeiro disco. É como se o britânico estivesse preso ao mesmo processo quase matemático de fazer música, estabelecendo uma sequência de faixas que grudam facilmente nos ouvidos, mas são descartadas logo em sequência.

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Marca visível no descartável projeto anterior, Ready for the Weekend (de 2009), em 18 Months vemos nascer um trabalho que parece funcionar apenas dentro de um prazo de validade, no caso, o número de meses anunciados logo no título da obra. Talvez pior do que o quase assumido caráter descartável do álbum seja a maneira o produtor acumula todo o principal composto pop do disco na primeira parcela do trabalho, tornando a segunda metade do registro inteiramente recheada por composições que nem ao menos parecem capazes de motivar o ouvinte. Mesmo a existência de músicas aos moldes de Sweet Nothing (com Florence Welch) e Here 2 China (encontro com Dillon Francis e Dizzie Rascal) próximas do fecho não conseguem restabelecer o ritmo pulsante da metade inicial do álbum, fazendo com que ele morra aos poucos.

Diferente do que testava no primeiro álbum, com as composições pensadas de maneira uniforme e revivendo a década de 1980 com um toque de novidade, ao pisar no território do novo álbum, Harris se divide em inúmeros caminhos. Cada faixa se solidifica de maneira diferente da anterior, resultando em um trabalho que parece funcionar como o modo aleatório de uma playlist. Se a inicial e climática Green Valley parece apontar para um rumo mais complexo da obra, a cada nova música (e novo gênero), Harris deixa claro que não parece nem um pouco interessado em promover um registro linear, diminuindo ainda mais a proposta do disco.

De forma inevitável 18 Months está longe de parecer um bem sucedido registro, lembrando muito mais uma coletânea caseira feita por fãs do que um projeto de atributos assertivos e originais em si. Mesmo que Feel So Close, We Found Love e demais composições espalhadas de forma torta pelo disco reverberem um inicial caráter atrativo, bastam algumas poucas audições para perceber que o disco logo começa a esfarelar, repetindo o mesmo caminho falho dos anteriores projetos do produtor, ou você realmente lembra de duas ou mais músicas dos últimos discos de Harris?

18 Months (2012, Fly Eye/Columbia)

Nota: 3.0
Para quem gosta de: David Guetta, Steve Aoki e Rihanna
Ouça: We Found Love e Feel So Close

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.