Disco: “1999”, Joey BadA$$

/ Por: Cleber Facchi 03/07/2012

Joey Bada$$
Hip-Hop/Rap/Alternative
http://badassjoey.tumblr.com/

Por: Cleber Facchi

Quem acompanhou o hip-hop norte-americano no último ano talvez tivesse expectativas para o lançamento de uma série de projetos ainda mais experimentais que os apresentados em 2011. Seja pelas afirmações jazzísticas que preenchem os primeiros discos do Shabazz Palaces e BADBADNOTGOOD, a esquizofrenia eletrônica que movimenta todas as faixas do primeiro álbum do Death Grips ou mesmo as instrumentais densas que afloram nos registros do Clams Casino, a cada novo lançamento, todas as dicas parecia encaminhar o gênero para um resultado ainda mais complexo e naturalmente inventivo.

Curioso perceber que ao pisarmos em 2012 todos os experimentos, testes e invenções que tanto definiram o estilo no último ano acabaram ficando para trás, resultado bem visível em grande parte dos registros de maior relevância apresentados até agora. Oposto do esperado, a cada novo álbum entregue ao público temos um regresso aos primórdios do gênero, exercício que caracteriza tanto o trabalho de grandes expositores do gênero, como Killer Mike no ótimo R.A.P. Music, a estreia do “novato” Ab-Soul em Control System e até o genial (e pop) Habits & Contradictions de Schoolboy Q: todos os lançamentos acabam de uma forma ou outra remetendo aos grandes clássicos do rap que embalaram as décadas de 80 e 90.

Mesmo àqueles que no último ano se deixaram consumir por uma proposta de vanguarda abriram 2012 com trabalhos mais acessíveis, algo bem representado pela estrutura descompromissada e dançante de The Money Store, segundo registro em estúdio do Death Grips. Todavia, se o abandono das propostas experimentais trouxe o hip-hop de volta às origens – afastando produtores e rappers de um resultado mais instigante e os aproximando de um som “convencional” -, nada do que ecoa no presente cenário parece se assemelhar às fórmulas prontas que transformaram de forma desinteressante o estilo no começo da década passada.

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Apoiado nessa proposta de voltar às origens, mas sem incorporar referências desgastadas, o novato Joey Bada$$, de apenas 17 anos, faz do primeiro registro oficial uma soma de acertos que nos transportam diretamente para idos da década de 1990. Entre referências à Tupac, aproximações com as bases minimalistas que definiram os primeiros lançamentos do Wu-Tang Clan e todo um clima nostálgico embalado pelos beats e versos confessionais, o jovem rapper mantém no tom descompromissado e nas letras descritivas o grande destaque de sua obra, um trabalho que praticamente serve como anuncio sobre o surgimento de um  novo artista de peso ao meio.

Acompanhado por nomes de peso como MF DOOM, J.Dilla, Freddie Joachim, Statik Selektah e Knxwledge, o nova-iorquino passeia sob um volumoso número de bases que brincam com o soul, jazz e o funk, mantendo no controle e na sonoridade amena das faixas a grande proposta do disco. Em cima dessa suposta calmaria, o rapper aproveita para destilar letras tomadas por uma realidade dura, tratando sobre criminalidade, crítica social, abusos do governo e polícia. Surgem assim grandes exemplares do rap contemporâneo, manifestação que preenche faixas como Waves, Survival Tactics e a épica Suspect.

Longe das esquizofrenias impostas pelos membros do OFWGKTA, sem o desprendimento de Azealia Banks e distante do mesmo caráter ambicioso que preenche as canções de A$ap Rocky, Bada$$ mantém um posto de distinção quando observado próximo dos demais representantes do atual hip-hop estadunidense. Simplista em uma audição rápida, Joey e 1999 logo revelam uma série de referências, sons e versos esforçados que não apenas se mantém acima da média dos registros atuais, como trazem de volta um sentimento que há tempos parece esquecido no rap, a honestidade, instrumento que dá vida, movimento e consistência para a massa sonora que bem delimita e faz crescer o álbum.

1999 (2012, Independente)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Ab-Soul, A$ap Rocky e Action Bronson
Ouça: Survival Tactics, Waves e Suspect

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.