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Ano: 2012

Selo: Captured Tracks

Gênero: Indie, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Real Estate, Girls

Ouça: Freaking Out The Neighborhood, My Kind Of Woman

8.3
8.3

Disco: “2”, Mac Demarco

Ano: 2012

Selo: Captured Tracks

Gênero: Indie, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Real Estate, Girls

Ouça: Freaking Out The Neighborhood, My Kind Of Woman

/ Por: Cleber Facchi 12/11/2012

Tudo dentro do trabalho de Mac Demarco remete ao mar e aos elementos litorâneos. Cada acorde ensolarado, vocal suave ou solo radiante emanado pelo cantor parece tingido pela cor alaranjada do por do sol à beira mar ou o balanço leve das ondas lavando as costas dos pés. Estranho perceber que toda essa calmaria e tonalidade marítima do registro se deem a quilômetros de distância do litoral, afinal, habitante da fria Montreal, no Canadá, o cantor e compositor usa de cada invento como uma versão particular (e idílica) de um cenário de sonhos, paixões e recortes cotidianos típicos de trabalhos do gênero. Entretanto, mesmo cercado por paredões de concreto e parcos tons de verde, Demarco alcança a mesma medida instrumental que tanto decide obras recentes de grupos como Real Estate, Girls ou qualquer outro apaixonado pelo balançar das ondas.

Mais recente lançamento do músico pelo selo Captured Tracks – casa de bandas como DIIV, Wild Nothing, Beach Fossils, entre outros -, 2 expande a sonoridade já atrativa que o músico havia testado no ainda recente Rock and Roll Night Club EP, trabalho apresentado há alguns meses e uma direção inicial ao que o compositor concretiza agora. Centralizado em cima de histórias simples, casos de amor passageiros e todo um catálogo de referências líricas que rompem com o convencional quando trabalhadas pelo músico, o álbum traz em 11 composições um mergulho em um universo de sonorizações psicodélicas, como se Demarco seguisse por um braço ainda mais acolhedor do que o Real Estate alcançou no último ano com o delicioso e flutuante Days.

Espécie de Jack Johnson menos cristão e mais Lo-Fi, o canadense trabalha cada canção dentro de uma calmaria peculiar, jamais rompendo com o cenário de “Sábado à tarde” estabelecido logo na canção de abertura do álbum. Com bom humor e certo toque de nonsense, o compositor faz crescer músicas aos moldes de The Stars Keep Calling My Name, faixa que soa como se Alex Turner do Arctic Monkeys fumasse um baseado com Stephen Malkmus (Pavement) à beira mar. Tudo se orienta em um eterno estado de leveza e ainda assim concisão, como se mesmo mergulhado em drogas Demarco mantivesse a condução linear do registro até a última faixa – sem nunca desafinar, jamais errar uma nota e mantendo o caráter atrativo do disco sempre em alta.

Por mais que a aproximação com a obra de outros artistas recentes seja constante – além dos já mencionados grupos é possível encontrar um pouco de DIIV, Tennis e até Toro Y Moi nos pontos menos eletrônicos de Bundick -, o canadense dá um passo além, não firmando uma relação com a música das décadas de 1960 ou 70, mas no pop descompromissado dos anos 1990. Da maneira como os solos surgem tímidos no decorrer das faixas ao formato quase caseiro do registro, em músicas como Sherril fica claro o que parece ser um encontro entre o Teenage Fanclub do álbum Bandwagonesque (pelas melodias de vozes) com o Pavement do clássico Crooked Rain, Crooked Rain (pela forma como a instrumentação flui pop, sem parecer banal).

É justamente dentro dessa medida comercial e possivelmente pop do registro que Demarco apresenta as composições mais criativas de todo o álbum. Enquanto Still Together, posicionada no fechamento do trabalho se apresenta como uma balada de reformulações essencialmente românticas e atmosféricas, Freaking Out The Neighborhood quebra definitivamente essa proposta. Uma das mais completas faixas do ano, a canção arrasta de forma leve o ouvinte para a dança, sendo quase possível visualizar um casal dançando sob a luz da lua enquanto a música ecoa doce ao fundo. Surge ainda a melódica Ode To Viceroy, a lisérgica Dreaming e até a declaração romântico-erótica My Kind Of Woman.

Tão suavemente inicia, 2 acaba se desfazendo em pequenas ondas no ouvido do espectador, como se o Sol que brilha no horizonte da faixa inicial fosse lentamente baixando, de forma preguiçosa e sempre envolvente. Não há no registro qualquer manifestação instrumental grandiosa ou que seja capaz de romper com a malemolência tramada na abertura do registro, garantindo um disco que mesmo simples do ponto de vista sonoro e poético acaba prendendo o ouvinte justamente por essa sonoridade tímida e encantadora.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.