Disco: “2012”, Galinha Preta

/ Por: Cleber Facchi 20/02/2013

Galinha Preta
Brazilian/Punk/Hardcore
http://www.galinhapreta.net/
https://www.facebook.com/galinhapretakaos

Por: Sylvia Tamie

Galinha Preta

Em outubro do ano passado, a banda brasiliense de grindcore Galinha Preta lançou um teaser do seu terceiro álbum, 2012. O vídeo de Ratoburguer foi rodado na rodoviária de Brasília, que centraliza o transporte público do Distrito Federal e é o ponto de convergência de toda a classe trabalhadora da região. Como não poderia deixar de ser, ali se vende um lanche tradicional – no caso, pastel com caldo de cana. Mas na parte externa do terminal instalou-se um quiosque de sanduíches que passou a dividir as preferências dos frequentadores, e que ganhou um singelo apelido em função da quantidade de roedores que também circula por ali. Capaz de agradar até vegetarianos e agentes da vigilância sanitária, o clipe conta com a participação especial de Esdras Nogueira, saxofonista barítono do Móveis Coloniais de Acaju, sendo, como o sanduíche que celebra, “rápido, bom e barato”.

Ratoburguer é um bom exemplo do rock do Galinha Preta na linha “um minuto é tempo demais”: a história por trás da música, muito mais comprida do que a mesma, o andamento alucinado e as letras extremamente sintéticas, de forte conteúdo crítico, político e social, e calcado em problemas do cotidiano. Depois de dez anos de existência, registrados em 3 em 1 (2007) – que juntava as três demos da banda, inacreditáveis 34 faixas em pouco mais de meia hora de duração – e o mais bem-acabado Ajuda Nóis Ae (2010), a banda formada por Frango Kaos (vocal, samplers, guitarra), Bruno Tartalho (baixo), Hudson Hells (guitarra) e Guilherme Tanner (bateria) não traz nenhuma surpresa para os fãs. O novo álbum mantém a rotina de samples pontuando as guitarras em profusão e os vocais gritados, num som orgulhosamente sujo, que sempre termina de forma brusca.


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Por conta do formato despretensioso das canções, é comum que muitos ouvintes encarem o som do Galinha Preta como mera diversão para headbangers, que enchem os shows da banda, e não atentem para os temas muito sérios que suas letras abordam: a profusão de teorias conspiratórias (como o próprio fim do mundo), a dependência das mídias sociais (“meu mundo acabou e ninguém tuitou”), a arrogância de certas camadas sociais brasileiras, representadas aqui por Boris Casoy, e a situação de endividamento permanente do trabalhador brasileiro. Em entrevista, o vocalista Frango Kaos já expressou sua intenção de fazer o público refletir sem apontar o dedo na cara de ninguém, por isso o tom quase de piada que muitas de suas letras adotam.

Várias bandas compuseram músicas sobre o fim do mundo, previsto para a mesma data de 21 de dezembro em que o Galinha Preta lançou o seu disco: os também brasilienses do Móveis, Hidrocor e Silva se voltaram, nunca sem certa ironia, para a possibilidade do mundo acabar. Mas ninguém pensou que a sobrevivência da humanidade seria um problema, até que no single 2012 Frango Kaos começou a cantar “Eu morrendo de medo, eu tô desesperado, se o mundo não acabar eu vou estar enrolado/ Com um monte de dívidas, com o nome na praça/ Fudi minha vida inteira e estou sossegado/ Mas se o mundo não acabar, eu vou estar enrolado”. Deve ser mesmo um problema, já que o mundo não acabou. Mas, se tivesse, teria sido com a melhor trilha sonora possível.


Galinha Preta
2012 (2012, Independente)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: The Scrooges, Ratos de Porão e Faces do Caos
Ouça: Mídias sociais, 2012 e Roubaram o meu rim

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.