Disco: “2:54”, 2:54

/ Por: Cleber Facchi 01/06/2012

2:54
British/Indie Rock/Female Volcalists
http://www.twofiftyfour.net/ 

Por: Fernanda Blammer

O ano de 2011 nem bem tinha acabado e a dupla britânica 2:54 já era uma das grandes apostas musicais para a temporada de lançamentos seguinte. Com poucas composições no repertório, as irmãs Hanna e Colette Thurlow trataram de logo adiantar o primeiro disco, um autointitulado álbum que costura versos confessionais, guitarras voltadas ao rock alternativo da década de 1990 e uma tonalidade agridoce que parece montada para hipnotizar o ouvinte. Entretanto, como toda aposta vinda de solo britânico, o trabalho das duas irmãs deve ser observado de forma atenta e com muita parcimônia.

Seguindo os passos de uma série de artistas que cada vez mais se aproximam das guitarras sujas ecoadas há duas décadas, a dupla inglesa faz do presente álbum uma espécie de ponte entre os sons construídos no passado e as referências que permeiam a música alternativa atual. Dessa forma, as garotas surgem como uma espécie de Sonic Youth mais tímido e menos experimental, ou talvez um The XX se estes resolvessem investir abertamente em distorções e deixassem de lado o clima intimista que tanto caracteriza o doce XX (2009).

A exemplo do que fora testado pelo Yuck e pela dupla Big Deal no último ano, ou mesmo por artistas mais recentes como Tribes e Trailer Trash Tracys no começo do ano, o 2:54 faz parte da nova leva de representantes do cenário britânico que resolveram se afastar do pós-punk que tanto caracterizou a música inglesa na década passada para investir em uma série de “novas” influências, sonoridades montadas posteriormente aos anos 80. Dessa forma, sai de foco o clima denso que abasteceu o trabalho de tantos artistas do começo dos anos 2000, para que sons relacionados ao shoegaze, garage rock, dream pop e diversas outras referências posteriores ganhem uma sobrevida.

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De maneira controlada, no decorrer do álbum é possível encontrar duas “vertentes” distintas que movimentam e sustentam o trabalho. A primeira se relaciona com o uso de guitarras mais firmes, expondo acordes temperados pelo ruído, uma dose leve de desespero e até uma força maior no emprego dos vocais. A referência se materializa em canções como Easy Undercover, Creeping e principalmente na faixa Sugar, canções em que é visível um peso maior por parte da instrumentação montada pela dupla e, principalmente, uma necessidade em quebrar a força excessivamente atmosférica e amena que por vezes caracteriza o álbum.

Oposto dessa condução mais funcional, em faixas como You’re Early e A Salute, as irmãs Thurlow abandonam a simplicidade e a crueza das formas para mergulhar em composições mais elaboradas, climáticas e em diversos momentos próxima daquilo que o The XX montou em 2009. Até a maneira de cantar das garotas acaba lembrando uma Romy Madley Croft menos contida. A diferença que distancia os dois projetos está no caráter pouco minimalista das canções, músicas que se ampliam e soam volumosas quando condensam distorções, vozes ecoadas e diversas camadas de ruídos leves.

Por mais que a dupla até arrisque em alguns momentos, alcançando um ar sóbrio e um toque de maturidade que poucas vezes se observa em um trabalho de estreia, o constante limite ou autocontrole das britânicas acaba acorrentando o registro a um som deveras básico e superficial. É como se a todo o momento Hanna e Colette até raspassem em um achado mais rico e amplo, mas optassem pelo controle. Talvez elas ainda estejam guardando o ouro para algum novo trabalho, ou quem sabe seja apenas medo de arriscar. Independente das respostas, somente o tempo e futuros registros garantirão se a dupla é mais do que uma simples aposta ou se de fato veio para ficar.

2:54 (2012, Polydor)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: The XX, Big Deal e Trailer Trash Tracys
Ouça: Creeping
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.