Disco: “50 Words For Snow”, Kate Bush

/ Por: Cleber Facchi 18/11/2011

Kate Bush
British/Singer-Songwriter/Alternative
http://www.katebush.com/

Por: Fernanda Blammer

 

Há tempos Kate Bush não vivenciava uma fase tão rica e criativa quanto a atual. Desde que Director’s Cut foi apresentado em maio deste ano que a musicista britânica não apenas reforçou sua relevância no cenário musical – utilizando do disco para retrabalhar velhas composições – como estabeleceu uma espécie de anúncio para o que ainda estava por vir. É agora com a chegada de 50 Words For Snow, seu primeiro álbum de inéditas em seis anos, que a eterna musa do Art Rock estabelece de fato todo seu poderio, transformando o álbum em um achado de beleza épica e melancólica, explicando de forma definitiva os motivos de ser uma das artistas mais cultuadas de sua geração.

Inspiração para uma série de importantes musicistas contemporâneas que vão de Björk à Joanna Newsom, de PJ Harvey à Tori Amos, Bush utiliza de suas velhas experiências musicais para surgir de maneira inédita para a nova geração de ouvintes. Entre cruzamentos de um som profundamente erudito, doses significativas de rock progressivo, além de uma fluidez etérea e romântica, a cantora vai calmamente estabelecendo todas as regras de seu trabalho, acalentando o ouvinte com uma sequência de versos delicados e uma instrumentação vagarosa que se estende a todos os cantos da obra.

Extenso em todos seus aspectos, o presente trabalho faz de suas sete únicas composições uma possibilidade quase mística para atravessarmos a obra da artista, que há todo momento se conecta intimamente aos primeiros e memoráveis trabalhos da cantora. Menos tocada pela fluência medieval que tanto encantou seus primeiros álbuns, em seu décimo e mais recente projeto Bush se aproxima de um tipo de som que mesmo caloroso em alguns momentos transparece um estranho caráter de frieza, fruto provável da melancolia sintomática que se abate sobre o registro.

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Livre dos vocais quase infantilizados que a acompanhava há algumas décadas, a britânica deixa que sua voz ecoe forte por todos os cantos do registro, edificando densos paredões sonoros, que ao partirem de encontro com a instrumentação que circunda o registro disco por converter o álbum em um projeto distinto, carregado e forte. Talvez pela longa extensão de suas faixas – enquanto Among Angels, a menor do álbum conta com 6:49 minutos de duração, Misty, a mais extensa ultrapassa os 13 minutos – a sensação repassada é a de que 50 Words For Snow se movimenta como um único bloco de som, um trabalho que amarra todas suas canções em uma mesma temática e segue assim até seus últimos momentos.

Embora permeado por um tipo de aura jazzística, algo que gradativamente afasta a compositora do ambiente bucólico e místico de seus iniciais registros, em diversos pontos da obra Bush se volta para a produção de uma música mais acessível e que vez ou outra se relaciona com seus primeiros discos. Exemplo mais claro disso está no single Wild Man, composição que aproxima a artista dos ares da década de 1980, quebrando de forma significativa a opacidade musical que acaba por caracterizar todo o álbum.

Não há como negar que em algumas faixas Kate parece simplesmente perder o foco da canção, reproduzindo um tipo de música que se preenche de excessos, algo que Lake Tahoe e a gigante Misty transmitem visivelmente. Se a abertura irregular do álbum pode proporcionar certa dose de cansaço ao ouvinte, ao se aproximar de seu desfecho o registro acaba ganhando novo fôlego, crescendo de maneira visível através do ritmo hipnótico da faixa título ou mesmo por meio da melancolia nada óbvia da canção de encerramento, Among Angels, com Bush ecoando a boa forma musical que aparentava no ápice de seus 20 anos.

50 Words For Snow (2011, Fish People)

Nota: 7.9
Para quem gosta de: Tori Amos, Björk e Joanna Newsom
Ouça: 50 Words For Snow e Wild Man

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.