Disco: “936”, Peaking Lights

/ Por: Cleber Facchi 20/06/2011

Peaking Lights
Lo-Fi/Psychedelic/Dub

Por: Cleber Facchi

Certas bandas ou discos parecem ter um momento exato, um tipo de estalo para que possamos entender em que se baseiam suas orientações, suas temáticas e sua música. Foi assim em 2010 com álbum Before Today do Ariel Pink’s Haunted Graffiti, Person Pitch do Panda Bear em 2007 e mais recentemente com 936 (2011) do casal Peaking Lights. Depois de longas audições e uma “não compreensão” do proposto pela dupla californiana, agora as tonalidades abafadas, pendências ao dub, psicodelia e toda a ambientação entregue no novo álbum do duo parecem ganhar sentido, edificando um labirinto de sons e sensações, além de um dos registros mais interessantes do ano.

Ao contrário de grande parte dos álbuns que se apoiam nas tendências excessivamente densas da música drone, elaborando canções claustrofóbicas, sons nada compactos e uma atmosfera difícil de ser absorvida, dentro do que é proposto pelo casal Aaron Coyes e Indra Dunis tudo flui de maneira tranquila, despojada e deveras chapada. As formas a princípio complexas de serem absorvidas, talvez pelo vasto cruzamento de ritmos, tendências e sons, logo proporcionam uma climatização agradável, da qual é difícil se desvencilhar.

A longa duração das faixas (algumas ultrapassam os oito minutos de duração) acabam garantindo aos californianos tempo e possibilidades diferentes de projetarem seus sons. Marshmellow Yellow a maior canção do disco, por exemplo, abre em meio a uma pequena trama de batidas, ruídos e delays enevoados, logo se preenchendo por pequenas camadas de teclados, direcionando a faixa para uma tonalidade próxima do reggae, mas que se apega aos sintetizadores e quase cai nos planos conceituais da chillwave. Com a entrada dos vocais de Dunis, a faixa toma proporções ainda maiores, motivando um tipo de som quase hipnótico.

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Até mesmo dentro da curta duração das faixas Synthy e Hey Sparrow, a dupla consegue misturar todas as inúmeras vertentes de seus sons (e são várias). Enquanto a primeira faixa se configura em um pequeno registro instrumental adornado de reverberações psicodélicas, lembrando muito o trabalho da dupla britânica Hype Williams, a segunda se divide entre um pop colorido e o dub, causando uma espécie de quebra dentro da fluidez experimental do álbum. Mesmo curtas, nas duas canções é possível encontrar uma vasta quantidade de estilos ou preferências musicais, entregando toda a competência do casal.

Embora o vasto agregado de sons e gêneros musicais dentro do disco acabem denotando certo toque de imprecisão ou de descontrole à medida que as canções vão se desenvolvendo, da faixa de abertura ao encerramento do viajado álbum é possível nos guiarmos por uma linha invisível, porém existente e perceptível, que percorre todo o trabalho. Um tipo de elo que aproxima os loopings precisos da faixa Synth no amanhecer do álbum até a canção de encerramento Summertime, com toda sua carga de ruídos e recortes de sons.

A boa receptividade do álbum na imprensa norte-americana – arrancando alguns elogios de sites como Gorilla Vs. Bear e Pitchfork – tem dado merecido destaque ao trabalho do Peaking Lights, se posicionando como um dos trabalhos mais complexos e inovadores do ano. Se difícil é a apreciação do álbum em uma primeira (segunda, terceira) audição, à medida que nos habituamos aos sons instáveis e a atmosfera trabalhada dentro do disco acabamos nos sentindo em casa, como se todas as propostas excêntricas e viajadas que são entregues por Coyes e Dunis fossem as mais naturais possíveis.

936 (2011)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Hype Williams, Toro Y Moi e Washed Out
Ouça: Tiger Eyes (Laid Back)

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.