Disco: “A Cosmic Rhythm With Each Stroke”, Vijay Iyer & Wadada Leo Smith

/ Por: Cleber Facchi 07/04/2016

Artista: Vijay Iyer & Wadada Leo Smith
Gênero: Jazz, Ambient, Experimental
Acesse: http://vijay-iyer.com/

 

A tristeza corrompe cada nota apresentada em A Cosmic Rhythm With Each Stroke (2016, ECM). Trabalho desenvolvido em parceria entre o pianista e compositor nova-iorquino Vijay Iyer e o trompetista Wadada Leo Smith, um dos veteranos do avant-garde jazz norte-americano, a obra de ambientação sorumbática se espalha lentamente, revelando uma imensa colcha de retalhos marcada por temas intimistas, profundamente sombrios e emocionais.

Em um movimento conjunto que vai da abertura do registro, com Passage, e segue até a execução da extensa Marian Anderson, no encerramento da obra, Iyer e o parceiro de estúdio trocam confissões e sentimentos que sutilmente ocupam o interior do trabalho. Uma espécie de canto silencioso, por vezes perturbador, capaz de ocupar os pequenos respiros deixados pelo trompete de Smith e a imensa base instrumental que o pianista detalha até o último instante do álbum.

Extensão cuidadosa do mesmo material produzido em obras como Solo (2010) e Accelerando (2012) – este último, lançado como parte do projeto Vijay Iyer Trio -, A Cosmic Rhythm… vai além de uma longa composição atmosférica, íntima de toda a série de registros assinados pelo pianista norte-americano. Trata-se de uma obra conduzida pela emoção, como se o “canto” melancólico despejado pelo trompete de Smith fosse capaz de interferir na tapeçaria que flutua em faixas como Labyrinths e A Divine Courage.

Ainda que seja fácil lembrar de obras assinadas por veteranos como Miles Davis e outros gigantes do Jazz norte-americano, durante toda a construção da obra, Iyer e Smith tentam estabelecer um conjunto de regras próprias. São instantes de isolamento rompidos por inserções crescentes de piano e gritos melancólicos que escapam do instrumento de Smith. Segunda canção do disco, All Become Alive sintetiza com acerto essa permanente estrutura montada para o álbum. Pouco mais de nove minutos em que os arranjos se alteram de acordo com as orquestrações da dupla.

Duas das composições que mais se distanciam do restante da obra, The Empty Mind Receives e A Cold Fire mantém no permanente encontro entre pianos e trompete uma curiosa engrenagem. Enquanto a primeira mergulha em uma atmosfera típica das trilhas sonoras de filmes Noir, A Cold Fire, sétima canção do disco, mostra o caráter mais experimental da obra. Um propositado afastamento do permanente silêncio que sustenta grande parte do trabalho.

De fato, está na manipulação, estímulo e constante quebra do silêncio um dos principais componentes para o crescimento da obra. São espaços longos, por vezes angustiados, como se a dupla brincasse com a atmosfera que cerca e momentaneamente sufoca o ouvinte no interior de cada música. Inserções controladas do trompete de Smith, pianos que vão da timidez ao exagero, elemento central para a formação dos pequenos turbilhões criativos que encolhem e crescem até o sopro final em Marian Anderson.

 

A Cosmic Rhythm With Each Stroke (2016, ECM)

Nota: 8.8
Para quem gosta de: Vijay Iyer Trio, Jason Moran e Colin Stetson
Ouça: All Become Alive , A Cold Fire e Labyrinths

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.