Disco: “A Different Ship”, Here We Go Magic

/ Por: Cleber Facchi 09/05/2012

Here We Go Magic
Experimental/Indie/Alternative
http://herewegomagicband.tumblr.com/

Por: Cleber Facchi

Sutileza é a palavra de ordem para o terceiro e mais recente álbum da banda nova-iorquina Here We Go Magic. Totalmente afastado das antigas aspirações que habitavam o passado recente do grupo, o novo disco brinca com a incorporação de uma musicalidade prática, concisa e ao mesmo tempo muito mais abrangente. Como se uma linha guia invisível fosse traçada do início ao fim do trabalho, a banda concentra todos os esforços na construção de um disco marcado pela proximidade entre as canções, fazendo com que o uso de letras cativantes e de uma instrumentação focada em uma estrutura tecnicamente “simples” amplie os horizontes e antigos limites que por vezes pudessem prejudicar a carreira do grupo.

Nigel Godrich, engenheiro de som britânico que há mais de 15 anos acompanha a produção dos trabalhos do Radiohead, é quem toma conta da direção que a banda assume em A Different Ship (2012, Secretly Canadian), um álbum que não somente muda o curso que o grupo vinha seguindo até agora, como arranca o máximo de cada componente do projeto. Delicado e ao mesmo tempo estranhamente expansivo, o disco passa longe de se manifestar como uma espécie de síntese dos dois discos anteriores – Here We Go Magic (2009) e Pigeons (2010) -, afinal, a proposta aqui é outra, como se os nova-iorquinos focassem em uma mínima particularidade de outrora – nesse caso o Krautrock – para estabelecer as novas bases do presente álbum

Talvez confusos ou apoiados em frentes musicais distintas, os anteriores trabalhos da banda (mesmo agradáveis em alguns momentos) pareciam perder o controle com o passar das faixas, como se o quinteto – comandado por Luke Temple e apoiado por Michael Bloch, Peter Hale, Jen Turner e Kristina Lieberson – não fosse capaz de manter o controle quando pisava em um terreno mais experimental e banhado pela psicodelia pop que estava em voga na época. Agora donos de um som mais firme, cada membro parece assumir uma função de controle, evitando a todo momento que o disco desande, como inevitavelmente acontecia a partir da segunda metade dos lançamentos anteriores.

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Com uma participação muito maior do que nos álbuns passados, as guitarras se perdem em loopings hipnóticos e bases suaves acompanhadas de batidas 4/4, elementos típicos das diretrizes que definem o krautrock. Principal tendência dentro do disco, em faixas como I Believe In Action e Make Up Your Mind é visível não apenas a influência de grupos como Neu! ou outros grandes expositores do gênero que surgiram no começo da década de 1970, mas figuras recentes como o grupo britânico Fujiya & Miyagi. Até Brian Eno e, claro, Radiohead acabam surgindo – a bateria em Hard To Be Close lembra muito algumas coisas do In Rainbows. O planejamento instrumental levemente matemático garante um acabamento límpido e minimalista ao álbum, que segue em ritmo ascendente, porém, controlado até o executar da extensa última faixa.

Se musicalmente os versos se apoiam em uma formatação necessariamente redundante para trazer o efeito necessário ao disco, nas letras o resultado é bastante similar. Divididas entre redutos intimistas e recortes tradicionais esculpidos de forma cíclica, os versos parecem dançar de acordo com a música. É como se para cada acorde, uma estrofe específica fosse montada e reaproveitada posteriormente, uma estratégia que movimenta o trabalho em grande parte do tempo, mas que se permite algumas brechas. Tanto a melancólica Alone But Moving (uma ótima música de superação) como Over The Ocean (que lembra o Wild Beasts do segundo disco) assumem isso, evitando que o álbum atinja uma proposta excessivamente calculada e linear.

Distante de qualquer aproximação que faça do Here We Go Magic uma espécie de projeto dissidente do Animal Collective – em Pigeons é inegável a proximidade com o som dos (também) nova-iorquinos -, a banda desenvolve um registro menos experimental e que aos poucos os encaminha para a criação de uma sonoridade própria e transparente. Godrich não apenas aponta a direção exata para que o grupo promova um trabalho assertivo, como garante suporte e até certa dose de inovação ao coletivo, entregando todas as ferramentas e fórmulas necessárias para que a banda siga na construção de projetos tão imponentes quanto o atual.

A Different Ship (2012, Secretly Canadian)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Fujiya & Miyagi, Wild Beasts e Bear In Heaven
Ouça: Hard To Be Close e Make Up Your Mind

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.