Disco: “A Fim de Onda”, Luê

/ Por: Cleber Facchi 15/03/2013

Luê
Brazilian/Female Vocalists/MPB
https://soundcloud.com/luemusica

Por: Cleber Facchi

Luê

As portas da música paraense estão abertas. Se até bem pouco tempo raros eram os aventureiros que conseguiam romper com os limites territoriais e alcançar o grande público, nos últimos dois anos a variedade de artistas paraenses que surgiram (ou foram finalmente descobertos) surpreende. Do fenômeno Gaby Amarantos à figura chave de Felipe Cordeiro, da delicadeza pop de Aíla ao toque sensual e eletrônico de Jaloo, o Pará é a direção para onde apontam todos os ouvidos em busca de novidade na música nacional. No meio desse cenário recheado pelas cores, a timidez e o conforto vocal de Luê surgem como um contraste, um ponto de calmaria aos exageros do Technobrega e um caminho fácil para as origens da música nortista.

Conduzido pelo título de A Fim de Onda (2013, Natura), a estreia da jovem cantora vem como um sussurro romântico nos ouvidos solitários. Climático e deixando claras suas intenções logo na autointitulada faixa de abertura, o trabalho se esparrama em uma variedade de composições marcadas pela saudade e a carência, porém, livres do exagero – seja ele o lírico ou o instrumental. De natureza confortável e capaz de expôr todos os sentimentos da artista em dez curtas faixas, o álbum serve como percurso seguro aos indivíduos de coração partido e que lentamente tentam se erguer.

Por mais que as referências aos sons latinos e à cultura nortista aproximem Luê de maneira natural do que ecoa na cena paraense, não há como distanciar a artista do que há anos toma conta das principais vozes femininas da música brasileira. Talvez pela similaridade como os vocais são aproveitados, parte significativa do trabalho da cantora se mistura à suavidade de Marisa Monte. Um som leve, pop e ainda assim não vago, proposta que embala os discos MM (1989), Mais (1991) e que lentamente se dissolve na estreia da paraense. Sem exageros ou conceitos exagerados, toques de Céu (do primeiro disco) e até um pouco da essência de Gal Costa são aproveitados pelo álbum – Cabeça talvez seja a melhor prova disso.

Luê

Transitando com parcimônia pela música pop, a cantora parece longe de assumir a mesma estrutura que hoje delimita a obra de Tulipa Ruiz e outras artistas centradas na nova música paulistana. Mesmo que o caráter regionalista a aproxime do que a conterrânea Aíla desenvolveu em Trelêlê ou até mesmo Gaby Amarantos nos momentos mais brandos de Treme, em A Fim De Onda Luê brilha autêntica. Talvez seja o trabalho que melhor represente a música nortista de raíz. Um disco totalmente orgânico, sem relações com technobrega e uma provável versão sintetizada de tudo o que Dona Onete e outras veteranas da música local conquistaram ao longo de toda a carreira. Se alguém busca por um caminho mais fácil para brindar a música paraense, a estreia de Luê talvez seja a melhor indicação.

Acompanhada por nomes de significativa relevância na cena nacional – entre eles Felipe Cordeiro, Edgar Scandurr, Régis Damascendo (Cidadão Instigado) e Pupillo (Nação Zumbi) -, Luê encontra nas pequenas parecerias um mecanismo para alcançar o som diversificado que se espalha pela obra. Enquanto a leveza de Pratica se acomoda em um cenário abrandado, perfeito para o crescimento de guitarras embebidas na psicodelia e os vocais límpidos da cantora, Faróis mergulha de vez no clima regional. Temperada por guitarras marcadas pelo suingue, a canção puxa automaticamente o ouvinte para as pistas, tornando a aproximação entre os corpos praticamente uma necessidade.

Praticamente o oposto da formatação épica que Gaby Amarantos orquestra em Treme (e que em breve deve se repetir na estreia da Gang Do Eletro), A Fim de Onda chama o ouvinte para dançar, porém de um jeito leve. Esbarrando em boleros, brincando com o remelexo das latinidades e chorando ao som do romantismo brega, a estreia de Luê vai além de se manifestar como um registro seguro para os não iniciados nesse tipo de som. Trata-se de uma alternativa involuntária, não apenas aos ritmos regionais, mas ao Pop e à própria MPB, como se o refugio sentimental de Luê fosse também o nosso.

 

Luê

A Fim de Onda (2013, Natura)

 

Nota: 7.3
Para quem gosta de: Aíla, Felipe Cordeiro e Céu
Ouça: Onde Andará Você, Sei lá e Cabeça

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.