Disco: “A I A: Alien Observer/A I A: Dream Loss”, Grouper

/ Por: Cleber Facchi 15/12/2011

Grouper
Ambient/Drone/Experimental
http://www.myspace.com/grouperrepuorg

Por: Cleber Facchi

 

Liz Harris não parece ser uma criatura deste planeta. Desde que os primeiros trabalhos sob o nome de Grouper começaram a aparecer em meados da década passada que a cantora – talvez essa não seja o melhor título à figura da norte-americana – vem se revezando solitária no lançamento de uma sucessão de registros obscuros, trabalhos profundamente mergulhados na estética Drone e que transformam a obra da musicista em uma espécie de portal para um universo completamente alheio ao nosso.

Se distante da nossa realidade está a obra de Harris, com o duplo e ainda recente A I A talvez as propostas musicais da artista comecem de vez a se aproximar do nosso próprio mundo. Dividido em duas partes, o álbum mantém as mesmas características musicais das anteriores obras da artista – quase todos trabalhos lançados de forma caseira ou através de selos independentes tão obscuros quanto as próprias composições da americana -, embora utilize de algumas aberturas visíveis, uma espécie de estratégia consciente para conectar a realidade de Harris com a nossa.

Mais expressiva das duas metades é A I A : Alien Observer, trabalho que concentra as criações mais extensas da musicista e também obra que mais nos aproxima do estranho universo que parece se formar na cabeça de Liz. Movimentando-se de maneira obviamente letárgica, o disco se preenche com teclados obscuros, guitarras liquefeitas e até alguns raros acordes que se desvencilham das projeções densas que orientam de forma imutável trabalhos desse gênero. Além de toda essa somatória, o álbum cresce graça as um elemento essencial para o projeto: a voz.

Tão suaves e obscuros quanto os sons esbanjados ao longo do trabalho, os vocais parecem se manifestar como um ponto de apoio ao ouvinte, o único mecanismo capaz de manter firmes os laços com a nossa realidade e a da artista. Diferente de outro trabalho muito similar, The Magic Place da conterrânea Julianna Barwick, em Alien Observer a voz não é o todo, mas um complemento, um elemento facilitador e um guia, como se fosse adicionado posteriormente, passadas as construções musicais de Harris.

Se na primeira metade de A I A a cantora parece desenvolver um trabalho puramente intimista, com a segunda parte, Dream Loss temos um quase oposto disso. Menos denso, o álbum possibilita que a artista navegue em um oceano de distorções e ruídos menos compactados, possibilitando que Grouper nos apresente o que seria o lado caótico desse estranho ambiente que ela promove. Com composições mais curtas – a duração dos dois discos é a mesma -, torna-se perceptível a imersão da artista em um som ainda mais experimental, delimitado pela ambient music, porém muito mais amplo e intenso – claro, dentro dos limites do disco.

Distintos em seus conteúdos, os dois trabalhos acabam se complementando, fazendo com que a musicista alcance um resultado muito mais satisfatório (e vasto) do que o proposto em 2008 com o sombrio Dragging a Dead Deer Up a Hill. Se A I A é uma chave para entendermos a mente de Liz Harris, é somente quando as duas metades do trabalho se encontram, abrindo de maneira definitiva todas as portas desse estranho e complexo ambiente.

Grouper

A I A : Alien Observer/ A I A : Dream Loss (2011, Yellowelectric)

Nota: 8.2/8.0
Para quem gosta de: Julianna Barwick, Sleep ∞ Over e Tim Hacker
Ouça: Vapor Trails e I Saw A Ray

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.