Disco: “A Joyful Noise”, The Gossip

/ Por: Cleber Facchi 15/05/2012

The Gossip
Indie Rock/Female Vocalists/Pop
http://www.gossipyouth.com/us/home

Por: Cleber Facchi

O trio norte-americano The Gossip é o típico exemplo de uma banda que não precisou de muito esforço para alcançar o clamor do público e relativo destaque na imprensa musical. Com uma das vocalistas mais queridas e caricatas da cena independente – a marcante Beth Ditto – e um hit de sucesso nas mãos – Standing in the Way of Control -, o grupo conseguiu em pouco tempo se transformar em um dos mais cobiçados do rock norte-americano, integrando de festivais a badalados eventos de moda mundo afora. Mais do que isso, a banda de Olympia, Washington, conseguiu encontrar uma fórmula

Tal qual os previsíveis livros de Dan Brown ou os filmes sempre explosivos e comercialmente viáveis de Michael Bay, os álbuns da tríade norte-americana exploram uma sonoridade padrão, músicas redundantes e que se orientam por um mesmo sistema lírico-musical. Cada vez mais distantes do indie rock honesto e que por vezes abraçava o movimento Riot Grrrl nos primeiros discos no começo de 2000, a banda se aproxima de um universo de faixas práticas e intencionalmente voltadas ao grande público. Entretanto, ao mesmo tempo em que o grupo se entrega ao mesmo teor eufórico de outros projetos típicos da música pop, a fórmula marcada começa a apresentar falhas, desgastes que praticamente definem toda a condução do recente A Joyful Noise (2012, Columbia), quinto e mais novo disco da banda.

Logo que inicia, ao som da faixa Melody Emergency, a cantora e os parceiros Brace Paine (guitarra) e Hannah Blilie (bateria) deixam escapar uma forte sensação de proximidade, como se o disco continuasse exatamente de onde a banda parou no último registro em estúdio, Music For Men, de 2009. A sonoridade cada vez mais voltada ao pop sintetizado que marcou os anos 80, se faz presente em cada uma das “novas” composições lançadas pelo trio. Explorada pelos mais variados nomes do cenário musical no decorrer da última década, a influência surge sem nenhum acréscimo no desenrolar do álbum, um disco que não apenas se aproveita da tradicional fórmula dos trabalhos passados do grupo, principalmente do último, como usurpa de uma série de referências típicas de grandes nomes do pop contemporâneo.

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Tudo no disco soa velho, monótono e desgastado. Como se o trio ainda estivesse estacionado em 2006, ano em que de fato foram apresentados ao mundo. Da sonoridade insossa que plagia os antigos trabalhos da banda, passando pelas letras “sofridas” de Beth Ditto, até a necessidade de construir uma capa conceitual, tudo esbanja um forte sintoma de pretensão. As músicas parecem jogadas de forma aleatória, sem qualquer esforço. Apenas mais um trabalho para que os fãs se sintam satisfeitos e a banda possa enfim dizer que tem material para uma nova turnê.

Em recente entrevista, Beth Ditto atacou Lady Gaga afirmando que a cantora pop faz “música para crianças”. Sem assumir partidos, mas talvez o que Ditto não tenha percebido é que boa parte das canções presentes no novo álbum dela soam tão pueris quanto as propostas pela diva pop, que ao contrário do que Beth tenta ocultar com guitarras “agressivas”, arranjo “complexos” e letras pseudo adultas, assume o lado comercial de forma inteligente e muito mais inventivo do que as aspirações arrastadas que se projetam com o passar de A Joyful Noise. Curioso perceber o quanto faixas como Perfect World e Get A Job parecem dividir as mesmas referências que definem o ainda recente Born This Way (2011), como se as músicas do The Gossip, apenas sobre leves modificações pudessem ser encaixadas com perfeição no interior do último álbum de Gaga.

Ditto, entretanto, não está errada em se apoiar em uma musicalidade repetitiva e letras que parecem apenas requentadas do último disco. O público da cantora parece pouco se importar se o conjunto de novas composições soam vergonhosamente similares ao que fora proposto em um passado recente do grupo, tampouco se as melodias que fomentam o registro não soam inventivas ou bem elaboradas. Afinal, essa parece ser a única resposta para que um trabalho tão superficial quanto A Joyful Noise possa ser lançado. The Gossip é uma banda que apenas faz sentido quando observada do ponto de vista da época em que alcançou o sucesso: quando todos ainda éramos adolescentes e gritar versos como “You live your life/ Survive the only way that you know” parecia fazer algum sentido. Já é hora de crescer.

 

A Joyful Noise (2012, Columbia)

Nota: 3.0
Para quem gosta de: Cansei de Ser Sexy, Lady Gaga e New Young Pony Club
Ouça: Melody Emergency

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.