Disco: “A Trip To Forget Someone”, A Trip To Forget Someone

/ Por: Cleber Facchi 30/10/2012

A Trip To Forget Someone
Brazilian/Post-Rock/Experimental
https://www.facebook.com/ATripToForgetSomeone

Por: Fernanda Blammer

A busca por composições de detalhamentos épicos sempre foi uma premissa básica para grandes e pequenos representantes do pós-rock. Desde que a banda norte-americana Slint praticamente definiu as propostas e principais marcas do gênero em idos da década de 1990 que a cada recente trabalho lançado encontramos um novo passo de grandiosidade, com determinados grupos soando até maiores do que verdadeiramente são. Do último trabalho da Macaco Bong ao mais novo registro em estúdio da banda canadense Godspeed You! Black Emperor, a expansão das formas sonoras e a necessidade em se materializar de maneira épica sempre pareceu um rumo certo a qualquer artista que mergulhe nos experimentos climáticos que tanto definem o estilo.

Com o título curioso de A Trip To Forget Someone (em bom português: uma viagem para esquecer alguém), a banda paraense comandada por Erik Lopes não apenas parece fugir de uma pessoa específica, como busca esquecer essa mesma proposta de contornos volumosos e detalhamentos magnânimos que há anos acompanham o pós-rock. Mantendo as bases tradicionais do estilo, ao longo do autointitulado primeiro disco, o músico busca firmar uma série de elementos que mesmo apoiados em velhas referências se esquivam de maneira voluntária de toda a grandeza descomunal do gênero. Logo, a viagem para esquecer alguém acaba nos conduzindo a desvendar todo um novo universo.

Por vezes íntimo do que a banda escocesa Mogwai promove dentro da atmosfera agridoce de Young Team (1997), em outros instantes próximo da calmaria erudita que acompanha a carreira solo do guitarrista Jonny Greenwood (Radiohead), Lopes navega ao longo de nove curtas composições por um oceano de calmarias que em poucos momentos revelam suas formas mais agressivas (sem exageros). Partidário do mesmo clima etéreo que circunda a obra da banda paranaense Ruído/mm, a cada nova música que surge pelo disco, o multi-instrumentista revela uma carga de elementos que se amarram de forma harmônica, resultado bem expressivo no encaixe doce dos solos de guitarras em meio ao emaranhado sujo que corrompe as bases das canções.

 

Praticamente um EP perto da grandiosidade (em extensão) que preenche boa parte dos trabalhos do gênero, em nenhum momento Lopes ultrapassa a barreira dos três minutos para a construção das músicas. Longe de solos volumosos ou percursos redundantes que possam camuflar de forma sonolenta qualquer composição ao longo do álbum, o paraense estabelece a construção de um disco ameno e sempre cuidadoso, como se dentro do curto espaço instrumental por ele desenvolvido fosse possível tomar conta de cada mínimo acorde. Assim, mesmo minúsculas perto do gigantismo de canções que acompanham a obra de grupos como Sigur Rós ou mesmo dos brasileiros da Hurtmold, o resultado diminuto das faixas se expande tamanho o cuidado expresso pelo compositor.

O mais peculiar dentro de todo o disco não é perceber o distanciamento do álbum em relação a tudo que ecoa dentro do pós-rock em moldes tradicionais, mas o afastamento direto de Lopes em proximidade ao que atualmente define a música paraense. Não espere encontrar pelo disco por qualquer mínima aproximação aos teclados pegajosos do electrobrega ou as guitarras suingadas do Carimbó. Ao estrear com A Trip To Forget Someone, o músico paraense mantém até o fecho da obra uma proposta distinta do que define o cenário em que está inserido, estabelecendo uma relação muito maior com o que ecoa além do território nacional.

Pequeno e gigantesco na mesma medida, o álbum mantém dentro do contexto irreal e surreal das faixas iniciais e finais uma estufa ambiental e sonora que se projeta de maneira sempre própria. É como se dentro desse universo de sonhos, fugas e delineamentos etéreos Lopes amarrasse as pontas de uma obra que conta com exata abertura, recheio e fim, marca bem exemplificada nas guitarras que se estabelecem gêmeas tanto nos acordes iniciais do trabalho, como nos últimos ruídos do disco. Provavelmente uma fuga e a construção de um cenário particular de Erick Lopes, mas que pode ser facilmente compartilhada com qualquer ouvinte. Basta apenas entrar.

A Trip To Forget Someone (2012, Independente)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Ruído/mm, Constantina e Mogwai
Ouça: Perimetral e London

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.