Disco: “A U R O R A”, Ben Frost

/ Por: Cleber Facchi 03/06/2014

Ben Frost
Experimental/Ambient Dark/Noise
https://soundcloud.com/benfrost

Por: Cleber Facchi

Ben Frost

A inexatidão obscura dos ruídos e fórmulas “instrumentais” sempre foi encarada por Ben Frost como um mecanismo básico para cada registro em estúdio. Curioso pensar que em A U R O R A (2014, Mute/Bedroom Community), mais recente obra do australiano residente em Reykjavík, Islândia, a premissa seja outra, quase opositiva. Parcialmente linear, o disco usa das tradicionais ambientações do artista como um princípio de movimento entre as faixas, gerando uma obra que mesmo complexa e etérea em suas definições, reflete uma linha temática que praticamente padroniza e orienta as canções.

Sequência (quase) imediata ao exercício lançado em By the Throat, de 2009, o novo álbum é uma obra de perversão em se tratando dos conceitos limitadores da Ambient Dark. Longe de promover um registro minimalista e hermético, como boa parte dos trabalhos do gênero, Frost parece inclinado a desconstruir a essência do estilo – além, claro, da própria discografia. Do momento em que tem início, em Flex, até a canção de encerramento, A Single Point Of Blinding Light, o músico usa dos ruídos para “contar uma história”. Um resumo caótico pré ou pós-apocalíptico, mas que revela sua essência mesmo sem esboçar palavras ou mínimas emanações vocais.

Sujo e intenso, o álbum é praticamente uma resposta ao ambiente compacto de algumas das grandes obras do estilo lançadas nos últimos anos – principalmente em 2013. Enquanto Excavation, de The Haxan Cloak, ou Virgins, de Tim Hecker (velho parceiro de Frost) se acomodam em sobreposições pacatas e atmosféricas, cada minuto de A U R O R A tende ao exagero. Praticamente uma obra dissidente do recém-lançado To Be Kind, do Swans – influência confessa do músico -, o presente álbum cresce durante todo o tempo, não economiza nas batidas e ainda transporta a mente do ouvinte para um cenário tão desconcertante, quanto hipnótico, difícil de ser evitado.

Parte desse exercício vem do uso assertivo da percussão desenvolvida para a obra. Com assinatura de Greg Fox, ex-integrante do Liturgy e atual baterista do Guardian Alien, as batidas orgânicas exterminam qualquer instante de calmaria que possa minimizar o funcionamento do disco, dando ao ouvinte – mesmo os não interessado em obras do gênero – um motivo para se manter atento durante toda a formação do álbum. Seja em composições montadas lentamente, caso de Venter, ou em faixas abastecidas pela desordem, vide Nolan, Frost e Fox desenvolvem um labirinto de sons essencialmente mutáveis, perfeitos para instigar o público. Nada de clamaria ou prováveis instantes de ruídos alongados, típicos do drone, em A U R O R A prevalece a imposição caótica dos argumentos.

Mais do que estabelecer uma arquitetura dinâmica ao registro, as batidas de Greg Fox garantem outro elemento fundamental para a solução do disco: a urgência. Observado atentamente, o trabalho se materializa como um registro curto. São apenas nove composições (algumas com menos de dois minutos) e uma ruptura constante dos temas, que mesmo íntimos de uma mesma proposta, harmonizam um cardápio imenso de possibilidades. Sim, regras e pequenas tendências são apresentadas logo que o disco tem início, mas nada que permaneça de forma estável durante os 40 minutos de desenvolvimento da obra.

Longe de ser encarado como um exercício autoral, o novo álbum de Ben Frost é o ponto de encontro para que diferentes nomes da “música experimental” acrescentem doses consideráveis de seus próprios conceitos. Além da bateria de Fox, Thorr Harris, percussionista do Swans, Shahzad Ismaily, multi-instrumentista paquistanês, e o veterano Tim Hecker aparecem pela obra, empurrando Frost para dentro de um cenário cada vez mais sujo e perturbador. A U R O R A pode até ser encarado como uma obra de desconstrução, mas a pluralidade de experiências e novas temáticas que nascem ao longo do trabalho são ainda maiores.

 

Frost

A U R O R A (2014, Mute/Bedroom Community)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Tim Hecker, Swans e The Haxan Cloak
Ouça: Venter, Nolan e Sola Fide

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.