Disco: “Abandon”, Pharmakon

/ Por: Cleber Facchi 21/05/2013

Pharmakon
Experimental/Noise/Avant-Garde
https://www.facebook.com/pharmakonnn

Por: Cleber Facchi

Pharmakon

A música perturbadora de Margaret Chardiet atua sob um propósito bastante específico. Trata-se de uma manifestação instrumental voltada à necessidade de provocar e forçar com as percepções do ouvinte. Distante de qualquer orientação melódica ou passagem que lide com a instrumentação de forma convencional, a compositora norte-americana trata do primeiro registro em estúdio do Pharmakon como parte de um desejo próprio em confundir o entendimento do espectador sobre a música. Um disco que dança pelos ruídos e porções experimentais dos sons da mesma forma que um trabalho típico da música pop parece brincar com a leveza vulgar das melodias.

Com apenas 22 anos, Chardiet assume uma postura firmada na maturidade para orquestrar o conjunto de quatro faixas que abastecem o disco. Cada parte do trabalho parece ordenada de forma a valorizar uma manifestação específica da obra, traduzindo no trançado excêntrico do todo a personificação final que define Abandon (2013, Sacred Bones). Conduzido em cima de elementos específicos do Drone, Noise, Avant-Garde e até passagens pelo Doom Metal que abastece a carreira de bandas como Sun O))), o trabalho expõe em cada instante – vocal ou sonoro – um fluxo marcado pela instabilidade. Dessa forma, Margaret parece escapar do propósito original da obra, se concentrar em matérias específicas e posteriormente sendo capaz de regressar ao ambiente homogêneo que se revela ao final do disco.

Para a abertura do álbum, Milkweed/It Hangs Heavy alimenta em mais de sete minutos de duração uma resposta musical centrada no desespero das vozes. Movida dentro de gritos extremos e do amargor inevitável que acomoda o trabalho da artista, a faixa se apresenta como uma espécie de preparativo para o que Chardiet desenvolve de forma cada vez mais sombria no restando de álbum. Em alguma medida, a canção parece até se manifestar próxima daquilo que Holly Herndon alcançou em Movement, no último ano, rompendo de forma brutal com o propósito acadêmico da obra para lidar com a força gutural de sua própria essência.


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A partir de Ache e mais especificamente da instabilidade que sustenta Pitted, Margaret parece finalmente amortecer o ouvinte dentro do cenário que sustenta os pilares e principais funções do registro. Assumindo na relação com o noise e nas vozes embrutecidas do Death Metal um alimento constante para a obra, a artista mergulha em um ambiente cada vez mais desconcertante. Assim, desistindo de qualquer base capaz de apoiar o espectador, a compositora faz das duas criações faixas que lidam abertamente com a completa desestabilização dos sentidos. Cada batida, grito, acorde ou manifestação sonora parece alimentada pelo experimento, sufocando o ouvinte (e a própria obra) em um mar de texturas essencialmente abstratas que estranhamente encantam.

De orientação naturalmente perversa, com a chegada de Crawling on Bruised Knees Pharmakon finaliza o disco como uma completa oposição ao que abastece parte da cena experimental norte-americana. Na contramão do que reside nos trabalhos de Julianna Barwick, Laurel Halo, Julia Holter ou qualquer interessada na formatação ambiental dos sons, Margaret alimenta a faixa como um último exercício dentro do propósito doloroso imposto logo na abertura do álbum. Assim, cada instante da composição se alimenta do próprio material alcançado pela artista no começo da obra, resultado em um espiral de sons que se conectam diretamente aos instantes iniciais do projeto.

Embora traga nos vocais e tramas sonoras que se espalham instáveis pelo trabalho uma possível aproximação com o ouvinte – evitada durante todo o restante da obra -, quanto mais a presença de Margaret se desenvolve, mais a artista parece orientada a desorientar o espectador. Ainda assim, mergulhada em um universo de texturas ruidosas, sons metálicos que se partem a todo instante ou a completa reconfiguração do que traduz uma música “convencional”, Chardiet traz no ambiente estranho da obra um resultado estranhamente atrativo, mesmo para o ouvinte que nunca tenha pisado neste tipo de terreno.

 

Pharmakon

Abandon (2013, Sacred Bones)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Holly Hedorn, Jenny Hval e Sun O)))
Ouça: o disco todo

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.