Disco: “Access All Arenas” e “A Good Night for Fistfight”, Justice/Los Campesinos!

/ Por: Cleber Facchi 24/05/2013

Justice/Los Campesinos
Ao Vivo/Electronic/Indie
http://www.myspace.com/etjusticepourtous
http://www.loscampesinos.com/

 

Por Allan Assis

Justice

Discos ao vivo costumam receber pouca atenção da mídia especializada, já que geralmente são vistos  como um mero intervalo entre trabalhos de estúdio – local onde são preparadas as ‘verdadeiras’ inovações. Servem então, como uma revisão do que de mais interessante foi apresentado por um artista até o momento, uma espécie de checklist que fecha a etapa de trabalhos anteriores e prepara o terreno para os próximos álbuns de inéditas. Access All Arenas (2013, Ed Banger), segundo registro ao vivo do Justice, muda ligeiramente o propósito dos apanhados de canções gravadas com participação do público. Gaspard Augé e Xavier de Rosnay dominam essa técnica como ninguém, haja visto o impacto causado na audiência de que acompanhou o festival Sonar 2012, em São Paulo, ou teve oportunidade de assistir ao DVD A Cross the Universe (2008), registro da última turnê internacional, mais um curto documentário sobre o duo.

Aos que não puderam fazer parte das centenas de vozes que se juntam aos sintetizadores marcantes do house com inspiração rock  tocado nessas ocasiões, surge agora a chance de verificá-los neste segundo trabalho ao vivo. Composto por 14 faixas, que dão maior vazão a interpretações e experimentações calcadas em (2007), e pontuado por alguns dos maiores hits do não tão bem recebido Audio, Video, Disco (2011). Access é basicamente um longo setlist eletrônico, onde as músicas se emendam transformando faixas em remixes que conversam entre si. Exemplos são Canon, e D.A.N.C.E, hit desacelerado no palco para servir de intervalo de descanso pro corpo, enquanto os pulmões bradam a letra. Aliás, a participação das vozes da audiência representa importante papel no show dos franceses. Os gritos de garotas histéricas espalhadas pelo Arena de Nimes, histórico anfiteatro em Roma – local onde o álbum foi gravado – se fazem sentir por toda a extensão do disco, ajudando a traduzir um pouco da comoção que toma de assalto as apresentações do duo que recebe tratamento de astros do rock.

Brincando com as expectativas de quem os assiste, e mantendo elementos reconhecíveis de seus maiores sucessos, mas adicionando novidades, como o ocorrido com We Are Your Friends, parceria dos franceses com a finada banda inglesa Simian, transformada em apenas uma ideia que derrama o forte refrão através de Civilization, New Lands e Waters of Nazareth. O elemento surpresa e o desapego em transmutar suas canções confere relances de ineditismo em algumas faixas, além de evitar o óbvio das apresentações ao vivo que tem o eletrônico como tema: o velho truque do dj set com efeitos e músicas pré-selecionadas que engessam apresentações sem deixar espaço para o inesperado. Vimos em Audio, Video, Disco que o Justice pode ter perdido um pouco a mão nas dosagens de seu eletrônico com temas rock, mas fica mais do que provado que os franceses sabem muito bem como agradar diante da devota legião de fãs em carne e osso.

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Enquanto o Justice passa com facilidade pela prova do live álbum, os britânicos do Los Campesinos! encontram o tom aos percalços. A Good Night for Fistfight (2013, Independente), primeiro disco ao vivo do sexteto, acaba por se mostrar um desfile do encantador apanhado de composições da banda ao longo dos poucos, mas frutíferos, anos de carreira, que deram origem a quatro álbuns e dois EP’s. Deixando um agridoce tom de despedida – já que esta é a última apresentação do grupo ao lado da baixista Ellen Waddell -, o álbum é marcado por derramar as já conhecidas lamúrias de Gareth Campesinos. Em conjunto à rica instrumentação com ares anos 90, que tanto poderia ser inspirada nos versos delicados dos escoceses do Belle and Sebastian, o trabalho segue em orientação dolorosa.

A diferença na apresentação de dezembro do ano passado e que surge agora em formato de álbum, para as gravações em estúdio não é grande: os instrumentos e gritos desesperados de Garret continuam em forma tão aprazível quanto sempre foram. As novidades apontam a favor da proximidade que o vocalista e seus comparsas conseguem estabelecer com o público. Piadinhas espertas, respostas diretas aos fãs mais animados que lançam perguntas ao palco e agradecimentos aos presentes pipocam nos entre atos do show, dando um caráter intimista ao espetáculo – o que de certa forma muda a observância dos que os acompanham. Pra quem confere as canções com encarte na mão do conforto de casa, o excesso desse artifício não parece mais tão interessante a certa altura – quebrando a fluidez das músicas quase sempre interrompidas por um monólogo de fim de faixa.

Merecem destaque os maiores hits We Are Beautiful, We are Doomed; Romance Is Boring e Songs About your girfriend, que se intercalam entre algumas das menos conhecidas (e apreciadas) do grupo; aliás, mora aqui outro problema que amarra o ritmo do disco: sua vasta quantidade de faixas. Do apanhado criativo da banda, e provavelmente animados ante a expectativa do primeiro disco ao vivo, os ingleses decidem enfileirar 21 delas na empreitada, o que torna difícil a audição em sequência e por mais de um vez.

Ainda assim, se o Los Campesinos! peca é por tentar agradar demais, isso transforma o grupo  naquela primeira banda em que se foi aos shows na tenra idade; eles podiam não ter uma produção à la Justice, onde até os gritos dos fãs parecem orquestrados por alguém detrás do palco, mas ainda assim conseguiam fazer um show pra se empolgar. E ao final do longo setlist, já indo pra casa, não dá pra não sorrir ao lembrar do que se viu.

 

Justice

Access All Arenas (2013, Ed Banger)


Nota: 8.5
Para quem gosta de: Daft Punk, Sebastian e Boys Noize
Ouça: D.A.N.C.E e Canon

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Los Campesinos

A Good Night for Fistfight (2013, Independente)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Belle and Sebastian, Camera Obscura e Tokyo Police Club
Ouça: We Are Beautiful, We are Doomed e Songs About your girfriend

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.