Disco: “Acid Rap”, Chance The Rapper

/ Por: Cleber Facchi 08/05/2013

Chance the Rapper
Hip-Hop/Rap/R&B
http://chanceraps.com/

 

Por: Cleber Facchi


Ainda que Andre 3000 e Big Boi jamais sejam capazes de regressar ao cenário colorido de Aquemini (1998), Stankonia (2000) e outros registros que marcaram a fase mais inventiva do Outkast, uma centena de artistas recentes se provam aptos para assumir o mesmo espaço e sonoridade. Trilhando um percurso maduro e de nítido apelo pop, Chance The Rapper faz da nova mixtape uma manifestação sublime do que construiu a carreira da dupla e consequentemente o Rap estadunidense na última década. Um catálogo de colagens e apropriações particulares do que gigantes do gênero alcançaram previamente, porém em um plano de completo descompromisso e novas aproximações com o público.

Na contramão do que aprofunda com sobriedade a obra de Kendrick Lamar, além de encarar o R&B de Miguel e Frank Ocean sem as mesmas lamentações, Chance faz da presente Acid Rap (2013, Independente) um trabalho que borbulha criativo nos ouvidos. Conjunto bem estabelecido de composições que passeiam de forma semi-convencional pelo rap, soul ou mesmo pela música pop, o rapper cria no distanciamento de padrões o ambiente exato para a formatação de um trabalho que parece tentado a brincar com a nostalgia. É como se ao encontrar sustento em referências esquecidas de Kanye West (em começo de carreira), ou na própria obra do Outkast, o rapper firmasse um som de propriedades únicas.

Como o título e a própria capa do registro logo apontam, a nova mixtape de Chancelor Bennett brinca com faixas de apelo lisérgico e pequenas doses de nonsense. Distante do propósito obscuro de good kid, m.A.A.d city, R.A.P. Music e outros registros de peso que sustentaram a produção no último ano, o trabalho percorre um fluxo colorido, proporcionando no uso melódico das rimas e sons pegajosos um respiro ao que reverbera na música recente. Todavia, ao mesmo tempo em que deixa crescer uma obra que se entrega ao pop sem preconceitos, Chance parece longe dos mesmos exageros de Wiz Khalifa e outros conterrâneos, afinal, o pop que circula pela obra é um mero complemento ou princípio, nunca o todo.


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Acompanhado por Action Bronson, Childish Gambino, Ab-Soul e outros figurões de distintos campos do novo rap estadunidense, Chance faz do enquadramento versátil um ponto de identidade para a obra. Dividido constantemente entre a seriedade das rimas e o apelo cênico, o artista acaba transformando Acid Rap em uma obra tão ampla, que classificá-la em uma primeira audição é um exercício quase impossível de ser concretizado. Ao fragmentar o registro em gêneros ou blocos específicos de som, o rapper parece confortável em lidar com o “romantismo” (na pacata Lost) da mesma forma que brinca sem pudor com a temática das drogas (como em Smoke Again). Uma leveza natural que praticamente substitui o ambiente cinza criado por A$ap Rocky em Long.Live.A$AP.

Com produção assinada em totalidade por Bennett, o trabalho usa de artifícios curiosos para amarrar a proposta versátil que encaminha o álbum. São os pequenos gritos sampleados que se espalham de forma aleatória pela obra, uma faixa de mesma temática posicionada na abertura e fechamento do disco, ao mesmo tempo em que diversos outros encaixes instrumentais centralizam a mixtape em um ambiente hermético. Dentro desse cenário concebido e conhecido em totalidade pelo rapper, faixas exageradamente comerciais como Cocoa Butter Kisses se manifestam na mesma proporção que músicas mais complexas, como Favorite Song e Chain Smoker. Chance parece inclinado a produzir um som de efeito comercial, mas nunca trata disso com artificialidade.

Talvez inconcebível dentro do que delimita o rap desde a chegada de My Beautiful Dark Twisted Fantasy (2010), Acid Rap traz na própria surpresa um mecanismo para ocupar ou mesmo criar um espaço dentro da presente cena. Ora manifestando uma extensão volátil daquilo que Danny Brown construiu em XXX (2011), ora revelando elementos quase caricatos do que o Hip-Hop deixou no fim da década de 1990, Chance The Rapper passeia pelo tempo e referências em um estágio de pleno descompromisso e bom humor. De forma bastante clara, não há no registro qualquer manifestação grandiosa que tanto impulsiona a nova safra de artistas, o que talvez sirva para explicar o quanto fugir dos tentáculos coloridos do álbum parece simplesmente impossível.

 

Acid Rap (2013, Independente)


Nota: 8.5
Para quem gosta de: Action Bronson, OutKast e SchoolBoy Q
Ouça: Juice, Lost e Cocoa Butter Kisses

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.