Disco: “Adeus, Segunda-Feira Triste EP”, Bidê ou Balde

/ Por: Cleber Facchi 06/07/2011

Bidê ou Balde
Brazilian/Indie Rock/Pop
http://www.myspace.com/bideoubalde

Por: Cleber Facchi

Sete anos, tempo mais do que suficiente para que uma banda caia em esquecimento mediante a proclamada falta de novidade, um espaço de tempo que poderia derrubar qualquer grupo, seja ele grande ou de forma muito mais veloz se ele fosse pequeno ou independente. Por incrível que pareça, este parecia ser o futuro da gaúcha Bidê ou Balde, que após o estrondoso sucesso alcançado com o álbum É Preciso da Vazão Aos Sentimentos de 2004 se afundou em um longo recesso, um hiato que se não fossem pelas constantes apresentações do grupo ou seu mais do que fiel apanhado de fãs, talvez sepultasse uma das mais divertidas e inventivas bandas brasileiras.

Quase uma década depois de seu último trabalho, a banda comandada por Carlinhos Carneiro, Vivi Peçaibes, Rodrigo Pilla e Leandro Sá retorna, fazendo com que através de cinco músicas os quase dez anos de “silêncio” que acompanharam a banda seja sumariamente esquecidos. Com apenas meia dezena de composições, Adeus, Segunda-Feira Triste EP (2011, Independente) reascende a velha chama do Bidê ou Balde e explica de maneira rápida e suficientemente detalhada aos que desconhecem o grupo, todos os motivos deles serem não somente um dos grandes proclamadores do rock gaúcho, mas um dos mais importantes representantes da nossa música.

“Me Deixa Desafinar! Eu Tenho direito!” grita Carlinhos logo na abertura do álbum, transportando o ouvinte para junto do variado jogo de sons e referências que delimitam a sonoridade da banda. New Wave, Pop, Indie Rock, Power Pop e sobrecargas de acordes pegajosos, que juntos montam toda a tapeçaria que reveste não somente a faixa de abertura do curto disco, mas de todo o trabalho da banda. De Blondie à Weezer, de Flaming Lips à Pixies, o que não faltam são elementos que dão consistência aos sons do grupo, sons estes que não apenas dão continuidade ao que a banda já vinha construindo anteriormente, como apresentam um novo jogo de possibilidades ao trabalho do BoB.

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Seguindo os passos do clássico Outubro ou Nada (2003), a banda se aventura na construção de faixas que ultrapassam os limites do pop, engrandecendo suas canções com referências e possibilidades que vão para muito além da música, como em VVA Decomposto (Ou, Tudo Funciona Meio Jackson Five), que parece brincar com a Blaxploitaxion em sua condução atmosférica e suingada. Com participação de Jorginho do Trompete, a canção entrega um tipo de ritmo completamente distinto de qualquer coisa que a banda já tenha elaborado, mostrando que os anos de hiato foram anos de aprendizados e experimentações para a banda.

A ironia, o sarcasmo e o bom humor, elementos que praticamente definem todas as canções da banda se revelam de forma intensa e renovada dentro do disco. Em Madonna, Paçaibes e Carneiro, escondidos atrás de doses significantes de vocais sintetizados relatam uma orgia fictícia entre Beyoncé, Jay-Z, Jesus Luz, Sean Penn, Guy Ritchie e, claro, Madonna. Enquanto isso na faixa de abertura do EP, a banda vai contra tudo o que a industria fonográfica obriga e se permite desafinar, completando sua coleção de versos grudentos ao avisar que (Não Existe Lugar) Mais Longe que o Japão ou mesmo brincando com os regionalismos na faixa de encerramento Tudo é Preza!, música carregada pelo sotaque forte de Carlinhos.

Embora sirva para matar as saudades da banda, Adeus, Segunda-Feira Triste evidencia um sentimento oposto, aumentando a angústia e a necessidade por mais e mais composições da Bidê. Repleto de sonoridades novas e um despojo que parecia perdido no antigo álbum, o recente EP é sem duvidas um novo e firme passo na carreira da banda. Só resta torcer que para um futuro lançamento – um disco “de verdade” – não demore mais sete ou muitos mais anos até ser lançado. Enquanto isso: “Me deixa desafinaaaaaaaar!”

Adeus, Segunda-Feira Triste (2011, Independente)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Wander Wildner, Autoramas e Ecos Falsos
Ouça: Me Deixa Desafinar e VVA Decomposto (Ou, Tudo Funciona Meio Jackson Five)

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.