Disco: “Adore Life”, Savages

/ Por: Cleber Facchi 20/01/2016

Savages
Post-Punk/Rock/Alternative
http://savagesband.com/

 

O punho levantado na capa de Adore Life (2016, Matador) surge como um indicativo da lírica e sonoridade violenta que rege o segundo álbum do Savages. Como uma expansão do mesmo universo temático apresentado em Silence Yourself, de 2013, cada faixa do presente registro cresce como uma sequência de exposições intimistas que exploram não apenas a vida amorosa da vocalista Jehnny Beth, mas os sentimentos do próprio ouvinte.

Logo na abertura do disco, o grito desesperado na inaugural The Answer: “Se você não me ama / Você não ama mais ninguém”. Uma espécie de ponte para a sequência de composições que exploram conflitos pessoais (Sad Person), clamam pela libertação (I Need Something New) e reforçam de forma angustiada o lado “podre” do amor (T.I.W.Y.G.). Uma expansão tumultuada da mesma temática de canções como Shut Up e Hit Me, ambas do disco anterior.

Até nos instantes mais “contidos”, Adore Life se projeta como uma obra que pensada para explodir. Prova disso está na lenta construção de Adore. Quarta faixa do álbum, a canção que bebe da mesma fonte sentimental de grupos como The Smiths – “É humano pedir mais? / É humano a adorar a vida?”- prepara o terreno com sutileza. Uma branda sobreposição das linhas de baixo, guitarras e sussurros que arrastam o ouvinte para dentro de um verdadeiro turbilhão de emoções nos instantes finais.

Planejado como um quebra-cabeças de peças cinzentas, Adore Life, diferente de Silence Yourself, soa como uma obra pensada especialmente para as apresentações ao vivo da banda. Solos e guitarras sempre crescentes, o refrão catártico, gritos, sussurros e movimentos delicados que servem de estímulo para cada ato ou canção seguinte. Impossível sair ileso de composições aos moldes de T.I.W.Y.G., Slowing Down the World e The Answer – faixas que demonstram o completo domínio do quarteto sobre a própria obra.

Mesmo com limites bem definidos, faixa após faixa, o quarteto cria brechas e e pequenos atos instrumentais voltados ao experimento. Composição que melhor sintetiza essa “necessidade” da banda, Surrender mergulha em um ambiente tão íntimo do Pós-Punk inglês do final da década de 1970, quanto da essência “eletrônica” do revival que tomou conta da cena nova-iorquina no começo dos anos 2000. Uma de fuga da solução de guitarras, batidas e vozes sempre urgentes que ocupam o restante do disco.

Posicionado em uma explícita zona de conforto, Adore Life prova que o Savages continua a se deliciar com o próprio universo de temas e referências instrumentais. Uma obra que pode até pecar pela incapacidade do grupo em ultrapassar um limitado ambiente de possibilidades, mas que espanta pela maneira visceral como cada verso vai espanca o ouvinte.

 

Adore Life (2016, Matador)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Protomartyr, White Lung e Iceage
Ouça: The Answer, Adore e T.I.W.Y.G.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.