Disco: “Adventure”, Madeon

/ Por: Cleber Facchi 15/04/2015

Madeon
Electronic/Synthpop/Pop
http://www.madeon.fr/

Não existe benefício algum em manter o preconceito musical, entretanto, deixar um pé atrás a cada novo “garoto prodígio” da música pop funciona como a garantia de uma audição minimamente atenta, talvez esquiva da inevitável euforia para onde apontam os holofotes. Com Madeon não foi diferente. Passado o lançamento de The City EP, em idos de 2012, seguido da performance forjada do produtor francês no Lollpalooza Brasil de 2013 – um DJ-Set com direito a movimentos encenados e incontáveis poses para as fotos -, pouco do trabalho assinado por Hugo Pierre Leclercq despertou minha atenção. Pelo menos até o lançamento de You’re On.

Com os vocais aos comandos do também novato Kyan Kuatois, a faixa apresentada em dezembro do último ano segue em ritmo frenético, quente. Enquanto uma enxurrada de sintetizadores invade os ouvidos do espectador, a voz plastificada de Kuatois se transforma no principal componente do trabalho de Madeon, tão próximo da eletrônica dançante de conterrâneos como Justice () e Daft Punk (Human After All), como de gigantes do Indie Pop norte-americano – principalmente o Passion Pit de Michael Angelakos e o (hoje adormecido) Discovery da dupla Rostam Batmanglij (Vampire Weekend ) e Wesley Miles (Ra Ra Riot).

Surpresa encontrar em Adventure (2015, Columbia), primeiro registro oficial de Madeon, o mesmo cuidado e precisa manipulação das melodias pop aplicadas no single de apresentação do registro. Intenso, sem tempo para descanso, Leclercq garante ao ouvinte pouco mais de 40 minutos de batidas, vozes e sintetizadores movidos pelo dinamismo dos arranjos. Uma obra capaz de dialogar com diferentes pistas e campos da eletrônica – Eletro House, Indie ou Pop -, transformando os exageros característicos da EDM em um mecanismo funcional, capaz de invadir a mente do ouvinte sem dificuldade.

Cravejado de hits, Adventure resgata a nostálgica sensação de sintonizar uma rádio FM nas noites de sábado, cercando o espectador com um jogo de canções explicitamente comerciais. Salve a introdução climática de Isometric – quase uma sobra dos primeiros discos de Neon Indian e Com Truise -, além dos versos e ritmo lento de Innocence e Pixel Empire, no fechamento do disco, o toque acelerado do trabalho prevalece de forma constante. Um acervo de experiências que tropeça na obra de deadmau5, Zedd e Calvin Harris, porém, logo se levanta, acerta o passo – e as batidas – de forma a revelar um caminho próprio de Madeon.

Componente central da obra, Leclercq explora o máximo a voz de cada colaborador como uma ferramenta, convertendo o registro em um jogo de manipulações voláteis. Bem-sucedido exemplo desse resultado e reflexo do pleno controle do produtor francês está na parceria gerada com Michael Angelakos em Pay No Mind. Ao mesmo tempo em que a linha central do trabalho permanece intacta, difícil não perceber uma série de componentes (musicais) típicos do último disco do Passion Pit, Gossamer (2012). O mesmo vale para as canções divididas entre Mark Foster (Foster The People) e Dan Smith (Bastille), tão confortáveis dentro do universo autoral de Madeon, como próximos de seus próprios projetos.

Depois de colaborar com nomes de peso como Lady Gaga, Ellie Goulding e Yelle, a pergunta parece óbvia: onde estão as mulheres no trabalho de Madeon? Mesmo a edição especial do registro exclui a presença de vozes e colaboradoras femininas, o que não prejudica o rendimento final do álbum, entretanto, parece bloquear e até desacelerar a passagem direta do produtor em direção ao grande público com o presente disco.

 

Adventure (2015, Columbia)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Passion Pit, Discovery e Zedd
Ouça: You’re One, OK e Pay No Mind

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.