Disco: “Aesthethica”, Liturgy

/ Por: Cleber Facchi 05/07/2011

Liturgy
Black Metal/Experimental/Progressive
http://www.myspace.com/liturgynybm

Por: Cleber Facchi

Pode um trabalho estar intrinsecamente ligado ao estilo que ele usa como base e ainda assim se apresentar como algo completamente distante desse mesmo material que usa como elemento de referência? Para o quarteto nova-iorquino que compõem o Liturgy isso não apenas é possível foi realizado através do mais recente álbum da banda, Aesthethica (2011, Thrill Jockey), disco que se concentra em toda a temática que delimita o Black Metal – uma sonoridade acelerada, crua e sombria, além de um apanhado de letras niilistas e caóticas -, mas que se orienta de forma quebrada e que parece criar um estilo e um cenário instrumental totalmente distintos.

Esqueça WU LYF, Tombs ou qualquer outra banda que faça de seus recentes trabalhos uma porta de entrada para um amontoado de sons sujos, claustrofóbicos e principalmente caóticos. Nada lançado em 2011 parece ser tão sombrio e ruidoso quanto o que é exaltado dentro dos 68 minutos que compõem o segundo disco da banda do Brooklyn – o primeiro foi Renihilation (20 Buck Spin), lançado em 2009. Em suas faixas o quarteto se orienta por um tipo de projeção instrumental que pode inicialmente se aproximar de um math-rock sujo e reformulado, porém à medida em que o trabalho se desenvolve qualquer métrica ou possível padrão sonoro torna-se corrompido.

Diferente daquilo que era entregue por Hunter Hunt Hendrix (vocal e guitarra), Bernard Gann  (guitarra), Tyler Dusenbury (baixo) e Greg Fox (bateria) em sua estreia – trabalho que hoje soa como uma considerável prévia do que estava por vir -, dentro de Aesthethica o quarteto se orienta por um tipo de som que não apenas distorce os próprios aspectos e preceitos básicos do Black Metal, como parece corromper todos os aspectos da música de maneira geral. Ao mesmo tempo em que a banda se circunda de uma sonoridade suja e que parece feita para afastar o ouvinte, o corpo de guitarras sempre ascendentes e a bateria irracional de Fox parecem hipnotizar e prender nossa audição.

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Embora pareçam propagadores de um som orientado pela destruição até mesmo de suas próprias bases instrumentais, o segundo disco do Liturgy parece não como um registro que se concentra na inexistência das coisas, mas na criação de algo completamente próprio. É como se o quarteto apagasse qualquer tipo de existência anterior – seja ela qual for – e se orientasse em criar um universo próprio, como quatro deuses, desenvolvendo seu único e peculiar universo, suas lógicas, suas próprias concepções do que deve ser encarado como existência e por consequente seu respectivo tipo de som.

Em cada uma das 12 faixas que compõem o registro é como se o grupo contasse distintas histórias ou relatos de diferentes épocas que delimitam em que se baseia a nova civilização por eles inventada. High Gold parece ser o início, começando pacato, misterioso e ainda incompreensível, mas logo em sequência se organizando e se convertendo no mais profundo caos. Há desde a evolução das espécies que habitam esses novos mundos (Generation), as guerras travadas entre eles (Sun Of Light), suas glórias (Glory Bronze) e até mesmo a extinção de todos os povos (Harmonia), revelando o que parece ser um universo distinto, porém semelhante ao nosso.

Mesmo que seja o aspecto caótico, sombrio e a crueza do registro os elementos que se destaquem em uma primeira ou mesmo em diversas outras audições, Aesthethica revela um quarteto de instrumentistas em perfeita sintonia e profundos conhecedores de cada um dos instrumentos por eles manuseados. Além da concisão da obra, o disco traz alguns momentos de maior experimentação, como em Helix Skull ou no encerramento de Harmonia, com o grupo demonstrando um tipo de possibilidade instrumental que possa ser empregada em seus futuros registros, deixando apenas um aviso de que o Liturgy pode nos impressionar ainda mais em um futuro próximo.

Aesthethica (2011, Thrill Jockey)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Krallice, Tombs e Ash Borer
Ouça: Generation

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.