Disco: “Afar”, Ice Choir

/ Por: Cleber Facchi 09/08/2012

Ice Choir
Indie/Shoegaze/Synthpop
http://www.icechoir.com/

Não importa qual seja a tendência do momento: ano após ano, transformações após transformações a década de 1980 continua a reverberar nos mais variados lançamentos que ocupam o cenário musical. Desde que o Interpol reviveu a obra do Joy Division no começo do novo século ou mesmo quando nomes como Neon Indian e Toro Y Moi foram encontrar referências no pop colorido da época em 2009, que uma infinidade de outros artistas tem resgatado o que há de mais belo (e irritante) na musicalidade neon da época. Dos sintetizadores marcantes, às batidas com eco e vozes delineadas por efeitos, o que não faltam são novos e até alguns veteranos artistas que encontram apoio e referência dentro desse variado jogo de sons, cores e sensações nostálgicas que explodiram ao longo da década.

É justamente dentro dessa proposta instrumental (e temporal) que o norte-americano Kurt Feldman encontra todos os artifícios para lançar o primeiro trabalho em carreira solo, o Ice Choir. Mais conhecido por sua participação dentro dos discos e shows da banda nova-iorquina The Pains Of Being Pure At Heart, o outrora baterista deixa parcialmente as baquetas para ocupar os vocais, sintetizadores, guitarras e letras que conduzem de forma cativante toda a extensão de Afar (2012, Underwather Peoples), primeiro projeto “individual” do músico que praticamente estabelece uma sólida conexão com as cores e sons delineados há mais de três décadas.

Ora bebendo dos acertos pop testados na obra do Human League, A-Ha, Duran Duran e outros apaixonados por sintetizadores, ora se ocupando com a seriedade o mesmo resultado que permeia os registros do The Cure e New Order, Feldman encontra um variado cardápio para bem estimular as nove composições que marcam o primeiro disco. Entre batidas que flutuam nos ouvidos, vozes que se protegem em meio a nuvens de sintetizadores e encaixes certeiros de guitarras, lentamente o músico e alguns parcos colaboradores estabelecem um registro que mesmo longe de soar grandioso, prende pela climatização amena e o resultado cativante que preenche todas as lacunas do álbum.

Como já seria de se esperar, além da forte aproximação com os teclados, as guitarras tomadas pela distorção acompanham Feldman durante toda a extensão da obra. Herança obvia do que fora deixado nos dois trabalhos da primeira banda do músico, o Dream Pop do Ice Choir ganha um toque de leveza justamente por não se aproximar das referências sonoras que banham os anos 90 (como em sua outra banda), mas por manter firme a conexão com os grandes ícones que brilharam na década de 1980. Surge assim o que aprece ser um resgate aos sons testados por Galaxie 500, The Jesus and Mary Chain e demais coletivos que deram formas a sons volumosos, densos e principalmente etéreos. Um tipo de sutileza que aparece como tempero extra ao nostálgico ao bem encaminhado álbum.

Se musicalmente o disco esbanja acertos e aproximações encantadoras com o que fora testado há alguns anos, em se tratando dos versos o romantismo mantém o tom universal. Confessional em diversos pontos, não são poucos os momentos em que Feldman se deixa conduzir por versos românticos, estritamente confessionais e envolventes, algo que Two Rings e Everything Is Spoilt By Use traduzem em poucos instantes. Essa proposta acaba aproximando de forma quase involuntária o músico daquilo que o conterrâneo George Lewis Jr promove dentro do Twin Shadow, fazendo com que os dois projetos cresçam em conjunto, um inteiramente voltado à melancolia outro deliciosamente entregue à paixão.

Embora o tom despretensioso de Afar por vezes impeça o trabalho de alcançar um resultado maior e ainda mais assertivo, a escolha de Kurt Feldman por manter um tratado de proporções diminutas torna o disco acolhedor e cativante em toda a extensão. É praticamente impossível evitar o apanhado de melodias encantadoras que explodem ao longo de músicas como I Want You Now And Always, Bounding e demais faixas do trabalho, registro que mesmo apoiado de forma confessa nos maiores clichês e acertos dos anos 80, soa estranhamente novo e atrativo de forma quase inédita. Há algo de novo na década de 1980, basta saber como explorar isso.

Afar (2012, Underwather Peoples)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Twin Shadow e The Pains Of Being Pure At Heart
Ouça: I Want You Now And Always, Teletrips e Everything Is Spoilt By Use

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.