Disco: “Afraid of Heights”, Wavves

/ Por: Cleber Facchi 27/03/2013

Wavves
Garage Rock/Indie Rock/Noise Pop
http://wavves.net/

 

Por: Cleber Facchi

Wavves

O lançamento de King Of The Beach em 2010 serviu como um ponto de transformação para a carreira do jovem Nathan Williams. Enquanto os dois primeiros trabalhos do músico californiano à frente do Wavves pareciam lidar com as experimentações sujas do Noise Pop e Surf Music em uma embalagem totalmente caseira e íntima do Lo-Fi, com a chegada do terceiro álbum o apelo pop tomou conta de cada música assinada pelo sempre chapado compositor. São faixas aceleradas em cima de guitarras grudentas, vocais berrados e essencialmente melódicos, além de todo um jogo de acertos que de uma forma ou outra se relacionaram com a temática veranil que ocupou a música norte-americana naquele mesmo ano. As ondas estava apenas se aproximando da praia.

Consciente das escolhas que deu início há três anos, Williams não somente parte de onde parou conceitualmente, como faz do recente Afraid of Heights (2013, Mom & Pop) uma extensão melhorada dos mesmos sons, temáticas e instrumentos formatados com o último disco. Mais do que isso, o novo álbum não despreza as transições pelo rock alternativo que alimentaram o bom Life Sux EP (2011), sugando uma variedade riquíssima de referências que caracterizaram a construção do maior e mais cômico hit do músico até agora: I Wanna Meet Dave Grohl. Como se buscasse encontrar uma versão litorânea dos trabalhos do Foo Fighters na década de 1990, o californiano mantém firme o uso das guitarras, sem jamais se desligar do caráter melódico e da acessibilidade em torno de cada uma das composições

Diferente de todos os lançamentos anteriores de Williams – inclusive do bem sucedido King Of The Beach -, o novo álbum entrega ao público um verdadeiro cardápio de composições radiofônicas e musicalmente vendáveis. Da sutileza inicial de Sail to the Sun, à grudenta Demon to Lean On, passando pela explosão de bateria de Lounge Forward ao clima leve da faixa-título até a arriscada Gimme a Knife, tudo é feito para grudar nos ouvidos sem qualquer esforço. Contrário do trabalho anterior, que ainda alimentava faixas como Mickey Mouse e Post Acid com a mesma sujeira dos dois primeiros discos, Afraid of Heights opta pelo novo. É uma obra de base fundamentada na pop, porém, acrescida de guitarras, ruídos e toda a gritaria ocasional que passeia pelas heranças da banda.


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Quem acompanha o rock californiano atual, ou mais especificamente o trabalho de Ty Segall, White Fance e The Oh Sees sabe do misto constante entre as distorções e a psicodelia suja que estes grupos desenvolvem, proposta que bem alimentou obras como Slaughterhouse no último ano. Williams parece caminhar em uma direção contrária. Como dito, a proximidade com o pop garante ao disco um brilho raro, inexistente em outros registros que circulam pela cena local. Muito do que conduz o trabalho do músico parece vir diretamente da relação com Bethany Cosentino, o que faz com que Afraid Of Heighs seja o trabalho que a dupla Best Coast tenha buscado alcançar com The Only Place (2012).

O mais satisfatório com o novo álbum talvez seja perceber que mesmo íntimo de uma sonoridade cada vez mais comercial, Williams em nenhum momento poupa no uso pesado da bateria e principalmente das guitarras. Enquanto Lounge Forward despeja uma seleção nada comportada de batidas expansivas (que por vezes tendem ao hardcore), Demon to Lean On traz no uso planejados dos acordes o ponto de maior transformação na carreira do Wavves. Inicialmente conduzia de forma branda, a faixa cresce gradativamente, encaixando rajadas de distorção em meio aos vocais cantaroláveis do músico. Sobra até para Everythign Is My Fault brincar de forma leve com os experimentos que marcaram os iniciais trabalhos da banda, ou ainda I Can’t Dream mergulhar fundo na psicodelia da cena local.

De forma bastante nítida, Afraid of Heights está longe de repetir o mesmo impacto e o ineditismo assumido no trabalho passado do Wavves, o que não impede que o álbum  surpreenda de inúmeras outras formas. Nathan Williams parece cada vez menos interessado na proposta rock-chapadão-descompromissado dos primeiros álbuns, investindo fortemente no uso de construções sonoras apuradas, inclusão de novos instrumentos (audíveis em Sail to the Sun e Mystic) e de melodias que exaltam a boa música do gênero na década de 1960. Se há três anos o músico parecia ser apenas um garoto musicalmente, a chegada lenta da maturidade deve revelar algumas surpresas para o jovem adulto e consequentemente para o próprio público.

 

Wavves

Afraid of Heights (2013, Mom & Pop)

 

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Best Coast, Jay Reatard e No Age
Ouça: Demon to Lean On, Afraid of Heights e Lounge Forward

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.