Disco: “After Dark 2”, Vários Artistas

/ Por: Cleber Facchi 22/05/2013

Varios Artistas
Electronic/Synthpop/Disco
http://vivaitalians.blogspot.com.br/

 

Por: Cleber Facchi

Italians Do It Better

Johnny Jewel passou boa parte da última década pinçando referências esquecidas do que alimentou os anos 1980. No ápice do Revival Pós-Punk, o músico e produtor norte-americano foi em busca  de pequenos encaixes sintetizados, equipamentos analógicos e toda uma variedade de experiências que resultaram no nascimento de bandas como Glass Candy, Symmetry e posteriormente em uma aproximação com o Chromatics. Acompanhado pelo produtor Mike Simonetti (da Troubleman Unlimited Records), Jewel deu vida no começo dos anos 2000 ao Italians Do It Better, selo especializado na dance music oitentista e que de tempos em tempos faz da coletânea After Dark uma resposta para o que aproxima o músico de outros artistas relacionados ao pequeno selo.

Assim como proposto há seis anos, com o lançamento de After Dark 2 (2013, Italians Do It Better) Johnny reforça ainda mais a relação com a produção musical estabelecida há três décadas. Trata-se de uma obra que traz na presença de velhos colaboradores e novos artistas relacionados ao selo uma extensão do mesmo propósito que o orienta os inventos recentes do produtor. Coletânea de 15 composições marcadas pelas mesmas experiências sombrias que acompanham o cenário melhor delineado desde o último ano, o projeto finaliza aquilo que Cherry (Chromatics) e The Possessed (Glass Candy) haviam antecipado há alguns meses, reforçando na intensa relação entre as músicas um registro completo, e não apenas uma simples compilação.

Vindo em boa hora – passada a repercussão positiva em cima de Kill For Love (2012), obra-prima do Chromatics -, o trabalho desmistifica o propósito climático em torno das últimas composições individuais do produtor, trazendo na colagem de elementos específicos a transformação essencial para a obra. Talvez o que mais distancie o bloco sombrio de canções não seja (mais uma vez) a reformulação de marcas delicadas do Synthpop, mas uma mudança natural dos rumos que se aproximam timidamente da década de 1970. Assim, Jewel e os convidados Desire, Mirage, Appaloosa ou mesmo o velho colaborador Simonetti, fazem da coletânea uma inversão do que foi conquistado há seis anos, transformando o novo catálogo em um regresso ainda mais nostálgico ao passado.


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Empoeirado por referências que ecoam Donna Summer (Warm In The Winter), uma versão particular da obra do Kraftwerk (Let’s Kiss), além de uma clara aproximação com aquilo que Girogio Moroder e outros veteranos da eletrônica conquistaram, cada passo no decorrer da obra traz de volta aspectos antigos da produção musical. Tendo no fundo lo-fi a essência para abastecer o trabalho, o coletivo composto por nove diferentes artistas – alguns colaboradores entre bandas – trata de cada composição como um objeto único e ao mesmo tempo aproximado. Assim, há na formatação misteriosa de Fill the Blanks ou no romantismo preguiçoso de Cherry uma intensa relação entre as canções.

Palco para pequenos experimentos, o destaque do trabalho não está em prestar atenção ao que Chromatics, Glass Camdy e outros conhecidos do selo vêm aproveitando, mas em observar o que decidem os novatos dentro da presente coletânea. Da ambientação obtusa de Into Eternity, assinada pelo Farah, ao pop lento de Half Lives, dos texanos do Twisted Wires, cada espaço da obra é pensado de forma a pescar o ouvinte que talvez passe despercebido, esperando por canções assinadas pelas bandas já veteranas. É como se Jewell apenas delimitasse a proposta do registro – a música firmada entre os anos 1970 e 1980 -, deixando aos convidados a busca por instantes de perversão desse mesmo resultado.

Da mesma forma que o resultado proposto há seis anos, com a nova coletânea é possível encontrar um trabalho que dança pela desordem controlada dos elementos. Ainda que apoiado em distanciamentos cuidadosos, a curadoria de Johnny Jewel finaliza tudo de forma padronizada e experimental, estabelecendo relações entre artistas distantes e até arriscando de forma estratégica – como fica claro em Beautiful Object, Intimate e demais canções espalhadas por todo o registro. Ainda que soe como um prelúdio do que deve alimentar a produção do selo de origem, After Dark 2 consegue ir além, acompanhando o fenômeno em torno de Random Access Memories e talvez revelando parte do que deve orientar a música de forma geral pelos próximos anos.

 

After Dark 2

After Dark 2 (2013, Italians Do It Better)


Nota: 8.2
Para quem gosta de: Chromatics, Glass Candy e Symmetry
Ouça: o disco todo

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.