Disco: “Agenor”, Vários Artistas

/ Por: Cleber Facchi 12/08/2013

Vários Artistas
Brazilian/Indie/Alternative
http://www.joiamoderna.com.br/
https://soundcloud.com/projetoagenor

Por: Cleber Facchi

Cazuza

Não há quem já não tenha brincado com a obra de Cazuza em uma centena de registros em estúdio, shows e colaborações em um sentido claro de manter viva a obra do cantor e compositor carioca. Dos vários tributos lançados na década de 1990, às regravações de quem partilha por diferentes gêneros as canções do artista, anualmente uma avalanche de músicos fazem de tudo para resgatar a essência de Agenor de Miranda Araújo Neto – grande parte deles acomodados em um exercício copioso e limitado. Longe de assumir o mesmo esforço redundante, chega ao público a coletânea Agenor (2013, Joia Moderna), obra que entrega faixas “obscuras” do repertório do cantor à toda uma nova safra de artistas nacionais.

Assim como testado no tributo à Ângela Ro Ro (Coitadinha Bem Feito) e em outros projetos que visitam a obra de Guilherme Arantes e Péricles Cavalcanti, o trabalho idealizado por DJ Zé Pedro e com curadoria da jornalista Lorena Calábria passeia pelo Lado B do cantor em um sentido de buscar pela novidade. São 17 composições que dançam por diferentes gêneros, temáticas e nomes em um sentido atento de invenção. Faixas que parecem fugir da ótica comum de quem chega pela primeira vez ao trabalho de Cazuza, mas que garantem um esforço criativo tão, ou talvez até mais rico, quanto o de outras composições clássicas do artista.

Longe de se perder entre as particularidades de cada convidado, o trabalho mantém na atmosfera semi-experimental um exercício curioso para o ouvinte, e principalmente para seus realizadores. São composições adornadas pelo acerto leve da eletrônica, guitarras distantes do som típico da década de 1980, e vozes que permitem brincar com os mesmos exageros cênicos que marcaram a atuação do cantor – morto em Julho de 1990, em decorrência da Aids. Agenor é um olhar curioso de nomes como Silva, China, Mombojó e Wado para um artista tão massacrado pelas regravações, mas que ainda entrega um catálogo curioso de faixas a serem desvendadas.

Cazuza

Embora desenvolvido em uma atmosfera musical partilhada, o registro assume de forma clara dois tipos de composições. O primeiro diz respeito ao tratamento de plena aproximação com a obra prévia de Cazuza. É o caso de músicas como Sorte e Azar, interpretada pelo carioca Qinho, ou Ritual, assumida por Botika. Canções que trazem no instrumental e no manuseio das vozes uma relação de extrema proximidade com a obra do cantor, como se o resultado conquistado há duas ou mais décadas fosse apenas repetido em um tratamento instrumental límpido e atual. As mesmas velhas composições, com um fundo leve de novidade.

É no segundo bloco de faixas que o trabalho realmente cresce. Ao apostar em uma completa reformulação dos arranjos, músicas como Doralinda, assinada por Kassin e Vem Comigo, interpretada pela banda Mombojó, entregam o trabalho de Cazuza à novidade. Há ainda exemplos de quem vai além dessa proposta, caso de Silva em Mais Feliz, que praticamente converte a música em uma continuação do álbum Claridão (2012), ou ainda Gatinha de Rua, que ao esbarrar na esquizofrenia tropical do grupo carioca Do Amor, surge como uma espécie de Lado B do recente Piracema (2013), segundo registro em estúdio da banda. Destaque também para o efeito caloroso tratado em Tapas Na Cara (por Felipe Cordeiro) e a estranheza de Down em Mim, ressuscitada de forma nada óbvia por Wado.

Captado em uma atmosfera autêntica, o trabalho praticamente desconstrói Cazuza e entrega a obra do cantor ao presente. Uma representação peculiar do que talvez fosse apresentado pelo artista se este ainda fosse vivo. Com uma função clara de apresentar o trabalho do músico carioca a toda uma nova geração de ouvintes, Agenor e seus realizadores não apenas cumprem com sua função, como parecem ir além, fazendo do registro uma obra de sons, temas e acertos próprios. Apenas não esqueça das versões originais.

 

Agenor

Agenor (2013, Joia Rara)

 

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Silva, Wado e Mombojó
Ouça: Tapas na Cara, Mais Feliz e Down em Mim

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.