Disco: “Agridoce”, Agridoce

/ Por: Cleber Facchi 10/11/2011

Agridoce
Brazilian/Folk/Indie
http://agridoce.net/

 

Por: Cleber Facchi

 

Ah o preconceito, essa atitude pequena e amargurada que nos priva do encontro com trabalhos possivelmente marcados por referências e experiências musicais que poderiam facilmente nos surpreender. Um conjunto de ideias previamente estabelecidas que provavelmente não sejam capazes de dialogar com a realidade daquilo que observamos. Preconceito, uma medida irracional, ilógica e incoerente que possivelmente afastará um amplo número de ouvintes do primeiro registro oficial da dupla formada por Pitty (sim, ela mesma) e o músico Martin Mendezz através do projeto Agridoce.

Aos que nunca observaram o trabalho da cantora e compositora baiana com bons olhos e até se vejam temerosos em relação a essa nova empreitada da musicista, talvez uma boa alternativa seja simplesmente fechar os olhos para os anteriores álbuns da artista e se deixar absorver pelas doces sensações anunciadas ao longo desse homônimo registro. Aqui não há Pitty, apenas uma desconhecida Priscilla Leone e seu parceiro, que a exemplo das duplas de indie folk norte-americanas ou britânicas entrelaçam uma sequência de confortáveis composições e versos que se dissolvem açucarados em nossos ouvidos.

Esqueçam as guitarras que explodiram em meados de 2003 com o disco Admirável Chip Novo, e que a partir de então deram formas a uma das mais consistentes e bem sucedidas carreiras musicais da última década. Tudo que é anunciado ao longo das 12 delicadas composições do duo chega de forma branda, simplista e livre de todo possível excesso ou mínimo exagero musical e lírico. Como um nascer do sol em um ambiente bucólico e acalentado, assim se desenvolve e flui a totalidade do registro, que encontra em pequenas doses de melancolia seu elemento de força e concisão.

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Se em carreira solo Pitty concentra suas forças em um vasto jogo de referências musicais ruidosas, passeando tanto pelos trabalhos da dupla The Mars Volta como os sons propostos pelos veteranos do Faith No More, ao lado do parceiro Martin temos um completo oposto dessas sensações. Do ambiente caseiro e sorumbático de Elliott Smith aos lamentos de Leonard Cohen e a tristeza grandiosa de Jeff Buckley, tudo se movimenta de maneira pacata, quase em slow motion, fazendo com que seja praticamente impossível traçar qualquer mínima referência entre um trabalho e outro da cantora.

Mesmo os versos enaltecidos ao longo do projeto parecem delimitar suas referências dentro de um universo totalmente próprio, pequeno e confortável. Sempre tomada pela melancolia e o constante sentimento de adeus, Pitty vai aos poucos construindo faixas como Dançando e 130 anos, canções que têm seus versos costurados em uma fina tapeçaria musical e poética, com a cantora dialogando diretamente com o espectador, um completo oposto da grandiosidade proposta em seus anteriores e sempre vastos projetos.

Dicotômico, o trabalho passa longe de se anunciar como mais um registro em estúdio da cantora baiana, mas sim um projeto em conjunto, um álbum que parece absorver de maneira encantadora tanto a instrumentação serena de Mendezz, quanto os bem posicionados versos de Leone. Se preconceituosos forem aqueles que resolvam se esquivar do registro apenas pelas anteriores experiências da dupla, ignorantes e também carentes serão por não serem agraciados pelo belo conjunto de elementos que borbulham calmamente ao longo do disco. Com Agridoce Pitty não apenas provou estar além de uma artista radiofônica e convencional, como conseguiu proporcionar o mais sólido registro de toda sua carreira e um dos grandes achados musicais do ano.

Agridoce (2011, Deckdisc)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Rosie and Me, Road To Joy e Lulina
Ouça: Dançando

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.