Disco: “Água Rosa”, Nvblado

/ Por: Cleber Facchi 17/03/2016

Nvblado
Nacional/Post-Rock/Alternative
https://nvblado.bandcamp.com/

 

Eu fiz de tudo pra você ficar em paz / Agora é minha vez de encontrar a paz / Não vou ficar pra trás“. A letra cantada aos berros em Pedra Do Velho, faixa de abertura do melancólico Água Rosa (2016, Bichano Records), indica a mudança de direção dentro do novo trabalho de estúdio da banda catarinense Nvblado. Longe do desespero que parecia orquestrar grande parte das composições apresentadas no antecessor Afogado, de 2013, são versos marcados pela ruptura e libertação que orientam a “nova fase” da grupo.

Entre atos instrumentais extensos, refúgios melódicos e faixas que ultrapassam os 10 minutos de duração, gritos e versos desesperados do vocalista Renan Pamplona clamam pela mudança. “Quero fugir daqui, quero sair de mim / Quero que o vento me leve pra longe da onde o tempo me persegue”, confessa o músico na derradeira Asma, composição que resume com naturalidade todo o curto acervo lírico que movimenta as cinco canções da presente obra.

Em um leve distanciamento do mesmo material anteriormente apresentado em faixas como Angústia e Arpoador, cada faixa do novo disco rompe sutilmente com a temática sentimental que parecia orientar o álbum passando, indicando um renovado acervo de possibilidades. “Respiro e me aqueço, pronto pra renascer / Quantas vidas terei que viver pro destino final chegar? / Quantas perguntas terei que fazer pra resposta final alcançar?”, questiona o vocalista nos versos existenciais de Vespa, composição que segue um caminho parcialmente inédito em relação ao disco de 2013.

Segunda faixa do disco, a música de base sutil, atmosférica como as guitarras de Felipe Mattos e Felipe Underlost indicam, mostra a transformação que toma conta não apenas dos versos, mas de grande parte dos arranjos que sustentam a obra. De fato, bastam os 14 minutos da inicial Pedra do Velho para perceber a nova postura instrumental do grupo. Uma imensa paisagem sonora que se espalha sem pressa, como se cada integrante estabelecesse regras e conceitos próprios ao longo do trabalho.

Salve o vocal angustiado e sempre estratégico de Pamplona, Água Rosa, muito mais do que um perfeito exemplar da cena screamo, reflete a assertiva relação do grupo com o universo do pós-rock. Bases lentas e alongadas que poderiam facilmente ser encontradas em clássicos como Lift Your Skinny Fists Like Antennas to Heaven (2000) do Godspeed You! Black Emperor e outros gigantes dos anos 1990/2000. É possível passar horas explorando com atenção cada ruído sujo ou voz esculpida pelo grupo.

Peças detalhistas, versos marcado pela sobriedade e uma curiosa sensação de acolhimento que se revela em cada ato arquitetado com espero para o disco. Feito para ser ouvido sem pressa, flutuando em um oceano de nuances, distorções e pequenos acréscimos instrumentais, Água Rosa não apenas garante sequência ao material anteriormente entregue pela banda, como revela ao público um novo conjunto de possibilidades.

 

Água Rosa (2016, Bichano Records)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: E a Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante, ruído/mm e Labirinto
Ouça: Pedra do Velho, Asma e Vespa

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.