Disco: “All Love’s Legal “, Planningtorock

/ Por: Cleber Facchi 17/02/2014

Planningtorock
Experimental/Electronic/Female Vocalists
http://planningtorockofficial.com/

Por: Fernanda Blammer

Planningtorock

Janine Rostron talvez seja a dona da maior “franquia” da dupla The Knife. Sob o título de Planningtorock, a artista britânica residente em Berlim, usa das mesmas interpretações lançadas pelo duo sueco como um princípio de abastecimento para a própria obra. Exercício proclamado de forma particular desde a chegada de Have It All, em 2006, a musicista volta a brincar com a eletrônica em uma versão experimental – típica dos irmãos Dreijer -, efeito que reconfigura a essência conturbada e ainda assim acessível de All Love’s Legal (2014, Human Level), terceiro e mais novo lançamento da artista.

Variação inexata de Shaking the Habitual (2013), com o presente álbum Rostron quebra a marca sombria exposta em W, de 2011, ambientando as canções em um cenário de possibilidades acessíveis ao público médio. A abertura encontrada para o disco, entretanto, de forma alguma distancia a artista dos limites delineados desde o primeiro registro, o que explica a colisão confortável entre maquinações do pop e o percurso de incertezas que conduz o synthpop. Todavia, enquanto a obra da dupla sueca abraça de vez o hermetismo, a britânica passeia por entre tendências, como se buscasse a própria sonoridade.

Assim como nos dois discos que o antecedem, All Love’s Legal é uma obra movida por um mesmo tema conceitual. Diferente de W, em que o universo feminino era discutido de forma complexa, o presente registro abre um pequeno leque de possibilidades, trazendo no amor e na discussão sobre gênero um princípio de estabilidade. Ainda que esta seja a linha escolhida pelos irmãos Dreijer no último ano – vide os últimos instantes de Full of Fire, “Let’s talk about gender, baby/ Let’s talk about you and me” -, Rostron consegue ir além de uma mera cópia. Trata-se de um imenso remix, como se as ideias encontradas na fonte de inspiração da artista fossem particularmente interpretadas.

Dividido entre variações de um mesmo tema e canções marcadas pelo próprio isolamento, o trabalho força Rostron a brincar com a própria zona de conforto. Enquanto a faixa-título e Steps deixam fluir a capacidade da artista em produzir composições melódicas, outras como Public Love e Human Drama são reforçadas por uma avalanche de plena estranheza. Sintetizadores tratados de forma aleatória, emanações vocais dissolvidas de forma caótica e rumos sempre incertos guiam a atuação da artista. No meio de todo esse conjunto de experiências musicais, versos como “Gender’s Just A Lie” ampliam os horizontes da obra em um exercício de reconfiguração do pop.

Com um pé na esquisitice, e outro na comunicação com o grande público, Rostron intercala as canções em uma medida propositalmente desconfigurada. Se em minutos Answer Land mergulha nas trevas da década de 1980, acumulando sintetizadores e vozes em uma trama sombria, Let’s Talk About Gender Baby e sua linha de baixo cativante arrasta de vez o ouvinte para as pistas de dança. Uma divisão constante entre o excêntrico – representado pela forte essência do The Knife – e o comercial, marca reforçada na série de elementos que flertam com a discografia do selo DFA – uma das antigas casas da artista.

Tão insano quanto qualquer outro disco assinado por Rostron, All Love’s Legal, mesmo atrativo em diversos aspectos, não se esquiva da incapacidade da artista em finalizar a obra. Por conta do caráter “aleatório” do registro, a britânica parece simplesmente despejar ideias sem solução, como se toda a construção assumida desde a inaugural Welcome fosse perdendo controle lentamente. Existem boas ideias, versos inteligentes e melodias para todas as bases de ouvintes, porém, a irregularidade ainda é o maior atributo e o principal defeito do registro.

 

Planningtorock

All Love’s Legal (2014, Human Level)

Nota: 6.5
Para quem gosta de: The Knife, Fever Ray e iamamiwhoami
Ouça: Public Love e All Love’s Legal

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.