Disco: “All We Love We Leave Behind”, Converge

/ Por: Cleber Facchi 15/10/2012

Converge
Hardcore/Metalcore/Punk
http://www.convergecult.com/

Por: Cleber Facchi

Há quem possa dizer que o tempo é a melhor forma de suavizar o coração dos brutos, acalmar os nervos dos exaltados e domar qualquer fera. Quem acredita nessa afirmação talvez deva passar longe do oitavo e mais novo disco da banda norte-americana Converge, All We Love We Leave Behind (2012, Epitaph). Ponto máximo de uma carreira que acaba de ultrapassar os 20 anos de existência, do título (“Tudo que amamos deixamos para trás”) aos versos, sons e qualquer peculiaridade que circula pelo registro, tudo se prontifica a corroer com agonia e desespero quem se aproxime do trabalho. A medida não apenas revigora a carreira de uma das grandes veteranas da cena estadunidense, como estimula o crescimento de um dos discos mais firmes e agressivos dos últimos anos.

Concentrado de tudo que a banda vem desenvolvendo ao longo da carreira, o novo álbum vai em busca do que é inédito na uma multiplicidade de formas que acompanham o quarteto desde os primórdios da década de 1990, quando a crueza parecia ser a única constante em cada nova canção propagada. Tão amplo e regido por conceitos como o anterior Axe To Fall (2009), mas ainda assim histérico e acelerado quanto o debut Halo in a Haystack (1994), o novo disco prova que mesmo duas década depois de formada a banda, Jacob Bannon e Kurt Ballou (líderes do grupo) se mantém tão ativos e joviais quanto nos primeiros acordes exaltados que abriam o álbum de estreia do Converge.

Por falar em Ballou, é o guitarrista quem decide grande parte dos rumos explorados no decorrer do presente disco. Produtor individual do atual registro – posição assumida desde o lançamento do disco No Heroes, em 2006 -, o músico usa do conhecimento acumulado ao longo dos anos para finalizar aquela que parece a obra mais coerente (e ainda assim insana) de toda a discografia do grupo. Tão logo Aimless Arrow abre o novo disco com sua força esmagadora, somos soterrados por uma avalanche de sons acinzentados, sujos e claustrofóbicos, proposta que se relaciona diretamente com o título amargurado da obra e consequentemente com os versos (em sua maioria guturais) despedaçados ao longo do disco.

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Espancando os tímpanos do espectador a todo o instante, All We Love We Leave Behind puxa o Converge para um encaminhamento distante do fluxo e das origens naturais da banda – diga-se a “herança” do Black Flag. Embora já fosse amplamente explorado no decorrer dos discos anteriores (principalmente do último), em cada nova canção que explode ao longo do álbum somos entregues a um composto desconcertante que brinca com os gêneros sem uma ordem pré-estabelecida. Enquanto Tender Abuse vai de encontro ao que fora alicerçado por bandas como Slyers, Shame In The Way cruza os versos desesperados da canção com uma massa de ruídos que tendem inevitavelmente ao noise – principalmente nos instantes finais da música.

Com as vozes praticamente vomitadas ao longo do trabalho, o letrista Bannon transforma cada verso exaltado pelo disco em um componente de transformações diretas para a própria sonoridade da banda. Exemplo claro disso está em Vicious Muse, faixa que parece inteiramente regida pelos vocais, garantindo ao restante dos elementos instrumentais um espaço pré-delimitado para circular. A regra, entretanto, não é válida para todo disco, já que em diversos momentos do álbum, como no decorrer da densa Sadness Comes Home a proposta passa a ser outra, com as vozes buscando acompanhar o fluxo intenso das guitarras e da bateria de Ben Koller, músico que acompanha a banda há pouco mais de uma década, mas parece compreender melhor do que os membros fundadores o que mais a engrandece.

Quase todo delimitado em cima de composições rápidas e rasteiras, torna-se curioso perceber que os momentos mais inventivos do álbum estão justamente no oposto dessa proposta. Ao mergulhar em composições mais extensas como a própria faixa título ou A Glacial Pace, vê-se uma propriedade não linear no desempenho das demais composições, marca que talvez diferencie o presente álbum dos anteriores lançamentos da banda e até aproxime o grupo do Sludge e outras propriedades do rock alternativo. Independente dos rumos, All We Love We Leave Behind se apresenta como um (novo) ápice na discografia do Converge, que passadas duas décadas de existência permanece tão ferrenho e intenso, quanto em um passado cada vez menos recente.

All We Love We Leave Behind (2012, Epitaph)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Botch, Supermachiner e Trash Talk
Ouça: Shame In The Way

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.